Um novo levantamento, que revisou quase 80.000 prontuários nos Estados Unidos, soma novas evidências de que o uso de antibióticos para prevenção de infecção de sítio cirúrgico não deve ultrapassar 24 horas de duração. A análise, divulgada na publicação científica Jama Surgery na semana passada, revela que a extensão do período de antibioticoprofilaxia aumentou a incidência de eventos adversos, como lesão renal aguda e infecção pela bactéria Clostridium difficile, sem aumentar a proteção a infecções locais (1). O uso desnecessário de antibióticos também contribui para o aumento da resistência aos antimicrobianos, um problema de saúde pública mundial que leva ao aparecimento de superbactérias (continua).
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Diretrizes brasileiras (2) e internacionais (3) sugerem que antibioticoprofilaxia deve ser feita apenas para cirurgias em circunstâncias específicas, com maior risco de exposição a áreas contaminadas ou com colocação de próteses. As recomendações também sugerem que a duração não deve exceder o período de 24h-48h, devendo, preferencialmente, cobrir apenas o período do procedimento cirúrgico. Mas a nova pesquisa indica que, mesmo esse período de até 48 horas, pode aumentar o risco de eventos adversos desnecessariamente. “A prática rotineira de profilaxia antimicrobiana após o fechamento da incisão deve ser descontinuada porque os dados sobre regimes mais longos mostram riscos preveníveis e ausência de benefícios”, escreveram os autores do estudo, médicos do sistema de saúde para veteranos em Boston, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston e da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
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Entre os pacientes que receberam antibióticos por menos de 24 horas, 4% tiveram infecção de sítio cirúrgico, 14,7% desenvolveram lesão aguda renal e 0,8% apresentaram infecção pela bactéria Clostridium difficile, associada a complicações gastrointestinais que podem levar à morte pacientes fragilizados. Quando a duração da antibioticoprofilaxia foi estendida até 48 horas, a taxa de infecção caiu para 2,6%, mas a de eventos adversos aumentou: foi para 26,4% em lesão renal aguda e 0,9% para infecção por Clostridium difficile. Cada aumento na duração da profilaxia, não diminuía o risco de infecção de sítio cirúrgico, mas aumentava a chance de eventos adversos (veja tabela abaixo).
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Duração da profilaxia x Evento adverso | Infecção de sítio cirúrgico | Lesão renal aguda | Clostridium difficile |
Menos de 24 horas | 4% | 14,7% | 0,8% |
Entre 24 e 48 horas | 2,6% | 26,4% | 0,9% |
Entre 48 e 72 horas | 4% | 32,1% | 1,9% |
Mais de 72 horas | 2,8% | 41,9% | 2,8% |
A melhor janela para administração do antibiótico é, no máximo, duas horas antes da incisão, como demonstrou um estudo em 1992 (4). Posteriormente à cirurgia, cada hora de atraso na primeira dose do antibiótico, aumenta os riscos de infecção. “Os achados sugerem que as estratégias que limitam a duração da exposição à pré-incisão e às doses intra-operatórias somente – incluindo procedimentos de cirurgia cardíaca e implante – têm o potencial de maximizar benefícios ao minimizar os danos”, afirma o novo estudo.
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Saiba mais
(1) Branch-Elliman, W., O’Brien, W., Strymish, J., Itani, K., Wyatt, C., & Gupta, K. (2019). Association of Duration and Type of Surgical Prophylaxis With Antimicrobial-Associated Adverse Events. JAMA Surgery. doi:10.1001/jamasurg.2019.0569
(2) Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Programa de Atualização em Uso de Antibióticos em Cirurgia . Ano I. nº2. Vol 1, Jul 2002.
(3) Berríos-Torres SI, Umscheid CA, Bratzler DW, et al; Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee. Centers for Disease Control and Prevention guideline for the prevention of surgical site infection, 2017. JAMA Surg. 2017;152 (8):784-791. doi:10.1001/jamasurg.2017.0904
(4) Classen DC1, Evans RS, Pestotnik SL, Horn SD, Menlove RL, Burke JP. The timing of prophylactic administration of antibiotics and the risk of surgical-wound infection. N Engl J Med. 1992 Jan 30;326(5):281-6.
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