Durante as internações hospitalares, as quedas que frequentemente são relatadas causam lesões, aumentam o tempo de hospitalização, elevam os custos e prejudicam a recuperação dos pacientes. Nos Estados Unidos, alguns hospitais chegam a taxas de queda de 3,44 a cada 1.000 pacientes-dia e, no Reino Unido, estudos apontam índices de até 6,63 quedas por 1.000 dias de leito ocupado.
Considerando que de 20% a 30% desses eventos são evitáveis, um estudo conduzido em Hong Kong implementou um programa de prevenção de quedas baseado em engenharia de fatores humanos em um hospital público com 750 leitos. Como a pesquisa teve início durante a pandemia de covid-19, para que os resultados fossem assertivos e de fato retratassem a realidade, os pesquisadores selecionaram três períodos para comparação: antes da covid-19, durante a covid-19 sem o programa e durante a covid-19 com o programa.
Confira as taxas médias de queda nos três períodos pesquisados:
- Antes da covid-19: 0,476 por 1.000 dias de leitos ocupados
- Durante a covid-19 sem o programa: 0,773 por 1.000 dias de leitos ocupados
- Durante a covid-19 com o programa: 0,547 por 1.000 dias de leitos ocupados
Apesar de notarmos que houve aumento na taxa de quedas após o início da pandemia (o que pode estar atrelado à superlotação das unidades e sobrecarga das equipes), a implementação do programa trouxe uma redução significativa das quedas em ambiente hospitalar, até porque, de acordo com os dados apontados, os perfis de risco dos pacientes não tiveram muitas alterações no período analisado.
Detalhes da implementação do programa
A equipe responsável pela implementação do programa era composta por geriatra, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, administradores e um especialista em engenharia de fatores humanos. Para a constituição da estratégia de prevenção, foram primeiramente discutidas, entre a equipe, todas as intervenções possíveis para reduzir o número desses incidentes.
Após a implementação do programa, quando ocorria uma queda, membros da equipe visitavam a unidade para uma breve inspeção e entrevista com o paciente, revisavam os registros daquele caso para checar todos os processos concretizados, e identificavam lacunas para, então, propor intervenções aos responsáveis que decidiram se acatariam ou não as medidas sugeridas.
Foram revisadas, ao todo, 347 quedas nos três períodos selecionados e definidas treze áreas de preocupação:
- Histórico do paciente
- Distância até o banheiro
- Sensor de alerta da cama
- Alarmes nas camas e banheiros
- Comunicação com pacientes em isolamento (realidade comum durante a pandemia)
- Educação do paciente
- Força e equilíbrio
- Ambiente
- Estrutura do banheiro
- Corrimão
- Poltronas geriátricas
- Coletes de segurança
- Gerenciamento de risco e prevenção de queda
Informações relevantes
O que promove uma queda? Existem variáveis diversas e fatores intrínsecos (relacionados ao estado do paciente envolvendo questões como idade, mobilidade, condições mentais e uso de medicamentos) e extrínsecos (relacionados ao ambiente externo envolvendo uso de grades na cama, auxílio durante a caminhada, tipo de calçado utilizado e facilidade de acesso ao banheiro).
E o que é, de fato, a engenharia de fatores humanos? Trata-se de uma profissão que usa embasamento científico para melhorar o desempenho humano. Para isso, compreende as capacidades e limitações dos profissionais, além de suas interações com os sistemas que o cercam e com os colegas de trabalho.
Um especialista dessa área pode aplicar várias técnicas de engenharia de sistemas como, por exemplo, hierarquia de ações e até mesmo princípios de design de produto, análise de tarefas, medições antropométricas. Na área específica de prevenção de quedas, a engenharia de fatores humanos pode ser aplicada para identificação de falhas de projeto do sistema e implementação de ações de melhoria.
Por fim, o estudo retrata um ponto importante: essa estratégia pode ser replicada de forma generalizada em outras instituições de saúde, visto que os princípios de engenharia de fatores humanos são universais.
Referências:
(1) Using human factors and ergonomics principles to prevent inpatient falls
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