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Prevenção de queda: um case de sucesso em um hospital paulistano

Prevenção de queda: um case de sucesso em um hospital paulistano
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A queda de pacientes dentro do ambiente hospitalar está entre os principais e mais difíceis eventos a serem evitados. As consequências vão de danos físicos graves, como fraturas, a psicológicos, que minam a confiança do paciente e atrasam a recuperação. Por isso, a prevenção de queda tem sido enfatizada em sistemas de saúde internacionais como um indicador importante de segurança do paciente.

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Um estudo comparativo conduzido em um hospital canadense com mais de 700 leitos mostrou que os pacientes que não haviam sofrido queda tinham 2,4 vezes mais chance de receber alta mais rápido do que aqueles que caíram, mesmo que o acidente não tenha resultado em nenhuma sequela física (1).

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Os hospitais que fazem parte dos sistemas públicos dos Estados Unidos, o Medicare e Medicaid, não recebem mais reembolso do governo em razão de gastos causados por quedas dentro das instituições (2). A penalidade, adotada em 2014, é uma maneira de forçar a adoção de medidas de prevenção de queda, uma preocupação frequente em sistemas de saúde do mundo inteiro. Nos hospitais que fazem parte do NHS, o sistema público de saúde do Reino Unido, as quedas são o principal incidente de segurança registrado. Entre 30% e 50% resultam em algum dano físico; as fraturas ocorrem em até 3% dos casos (3).

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A prevenção de queda é um desafio porque, além de ser multifatorial, depende também do comportamento dos pacientes e familiares – uma variável difícil de ser controlada. Mas análises de revisões sistemáticas sobre o assunto sugerem que a adoção de medidas organizadamente pode reduzir em até 30% o número de quedas (4).

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Um dos hospitais do grupo Américas Serviços Médicos, em São Paulo, alcançou uma redução de 12% em seu índice em apenas um ano, ao reforçar seu programa de prevenção de queda. De 2017 para 2018, dez quedas foram evitadas. O case foi apresentado pela enfermeira Raquel Anbruste Leuenroth, gerente regional da qualidade, em São Paulo, durante o II Seminário Internacional de Enfermagem, promovido pelo IBSPInstituto Brasileiro para Segurança do Paciente.

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Uma das primeiras medidas do hospital foi adotar um nova escala para medir riscos, a Johns Hopkins Fall Risk Assessment Tool. Em 2016, um trabalho de enfermeiros do Hospital Samaritano, em São Paulo, e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo avaliou a tradução da escala do inglês para o português. A escala foi validade. “A aplicação experimental mostrou que a escala é de fácil operacionalização”, escreveram os autores (5). A versão traduzida da Johns Hopkins Fall Risk Assessment Tool pode ser encontrada no estudo.

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A avaliação de risco de queda no hospital do Américas passou a ser feita para cada paciente diariamente. Antes, ela era realizada a cada 48 horas ou quando havia alguma mudança de unidade de internação. O plano de cuidado era feito de acordo com a pontuação do paciente na escala Johns Hopkins, que divide os pacientes em três grupos: baixo risco (entre 0 e 5 pontos), risco moderado (entre 6 e 13 pontos) e alto risco (mais de 13 pontos).

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Para todos os pacientes, como regra, independentemente do nível de risco, são aplicados os cuidados universais de prevenção de queda. Por isso, o hospital aboliu o uso das pulseiras de risco de queda para todos. Só recebem os pacientes de alto risco, como mais um lembrete. “Consideramos que todos os pacientes têm risco de queda”, afirmou Raquel. “Para chamar a atenção para os pacientes de alto risco, que exigem um olhar ainda mais atento, também adotamos a sinalização com uma placa na porta do quarto.”

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Cuidados universais para prevenção de queda

Os cuidados universais de prevenção de queda, adotados para todos os pacientes, são:

  • atender e programar as necessidades de ajuda, como as idas ao banheiro e as trocas de fralda. Uma boa medida é deixar os dispositivos, como papagaio ou comadre, sempre à mão;
  • programar e ajudar na movimentação dos pacientes, usando, sempre que possível, guinchos hospitalares, colchões infláveis;
  • deixar ao alcance dos pacientes objetos usados com frequência: campainha, mesa auxiliar, telefone;
    avaliar continuamente a possibilidade de retirada de dispositivos;
  • informar o risco e os cuidados com o paciente a ele e aos acompanhantes;
  • recomendar que o paciente nunca seja deixado sozinho e que o acompanhante comunique à enfermagem sempre que precisar se ausentar ou precisar de ajuda para movimentar o paciente;
  • orientar quanto ao uso de sapatos adequados, roupas de tamanho e ajuste adequados;
  • orientar paciente e família sobre a disposição e o funcionamento dos móveis e equipamentos, sobre a localização do banheiro;
  • manter o chão limpo e seco e o ambiente organizado;
  • propiciar iluminação adequada e utilizar “luz noturna”;
  • manter cama baixa e travada;
  • manter as grades superiores da cama elevadas;
    manter área livre para deambulação.

Pacientes com risco moderado

Para os pacientes classificados dentro do grupo de risco moderado, segundo a escala Johns Hopkins, são adotadas as seguintes medidas, além dos cuidados universais:

  • manter as quatro grades da cama elevadas, se RASS ≠ 0 (escala Richmond Agitation-Sedation Scale, para avaliar o grau de sedação e agitação);
  • usar faixa de segurança sempre que o paciente estiver na poltrona ou em transporte;
  • realizar rondas a cada duas horas para atender as necessidades;
  • verificar se os cuidados universais estão implementados.

Pacientes com alto risco

Os cuidados com os pacientes de alto risco para quedas são intensificados:

  • idas ao banheiro são programadas com o paciente/família. Caso o paciente insista para ficar sozinho no banheiro e sinalize ou apresente fraqueza muscular, desequilíbrio ou confusão mental, ele deve usar cadeira higiênica com faixa de segurança;
  • rondas noturnas são feitas a cada duas horas;
  • as transferências são feitas obrigatoriamente em duas pessoas ;
  • o quarto do paciente deve ser localizado o mais próximo possível do posto de enfermagem;
  • deve ser colocada a placa de alto risco para queda na porta do quarto do paciente.

Além de todas as precauções, a análise de cada incidente passou a ser feita imediatamente, para que se possa identificar, corrigir e prevenir situações parecidas no futuro. Auditorias clínicas também são realizadas mensalmente nos prontuários e os indicadores são acompanhados. Com as mudanças o número de quedas graves na instituição passou de cinco em 2017 para uma em 2018.

Infografia com sugestões de ações para prevenção de queda no hospital (IBSP)
Infografia com sugestões de ações para prevenção de queda no hospital (IBSP)

SAIBA MAIS

  1. (1) Dunne, T. J., Gaboury, I., & Ashe, M. C. (2014). Falls in hospital increase length of stay regardless of degree of harm. Journal of Evaluation in Clinical Practice, 20(4), 396–400. doi:10.1111/jep.12144.
  2. (2) Taylor, E., & Hignett, S. (2016). The SCOPE of Hospital Falls. HERD: Health Environments Research & Design Journal, 9(4), 86–109. doi:10.1177/1937586716645918.
  3. (3) Morris, R., & O’Riordan, S. (2017). Prevention of falls in hospital. Clinical Medicine, 17(4), 360–362. doi:10.7861/clinmedicine.17-4-360.
  4. (4) Miake-Lye, I. M., Hempel, S., Ganz, D. A., & Shekelle, P. G. (2013). Inpatient Fall Prevention Programs as a Patient Safety Strategy. Annals of Internal Medicine, 158(5_Part_2), 390. doi:10.7326/0003-4819-158-5-201303051-00005.
  5. (5) Martinez MC, Iwamoto VE, Latorre MRDO, Noronha AM, Oliveira APS, Cardoso CEA, et al. Transcultural adaptation of the Johns Hopkins Fall Risk Assessment Tool. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2016;24:e2783.

 

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