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Objetos esquecidos: estudo revela em quais cirurgias retenção é mais frequente

Objetos esquecidos: estudo revela em quais cirurgias retenção é mais frequente
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Instrumentos preparados para cirurgia: eles estão entre os principais itens retidos após intervenções cirúrgicas (Bigstock)
Instrumentos preparados para cirurgia: eles estão entre os principais itens retidos após intervenções cirúrgicas (Bigstock)

A Joint Commission International (JCI), organismo de acreditação americano, divulgou em sua publicação científica um grande levantamento sobre retenção não intencional de objetos após cirurgia – mais conhecidos como objetos esquecidos na cirurgia. Foram analisadas as circunstâncias e fatores contribuintes do esquecimento de 308 itens cirúrgicos, entre instrumentos, lâminas, drenos.

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A compilação ajuda a entender as circunstâncias em que as retenções costumam ocorrer, os tipos de objetos esquecidos com mais frequência e as operações em que o evento mais acontece. “Os resultados podem servir como uma das fontes de evidência para análises desse tipo de risco”, escreveram os autores no artigo publicado no The Joint Commission Journal on Quality and Patient Safety (1).

O que há de novo?

De acordo com os pesquisadores americanos, da University de Iowa, autores do artigo, este é o maior conjunto de dados sobre objetos esquecidos após cirurgia já divulgado. Ele engloba notificações feitas à JCI entre outubro de 2012 e março de 2018, além de casos noticiados na imprensa ou notificados a outras entidades.

Os dados revelam que os objetos esquecidos com mais frequência:

  • são instrumentos (33%), seguidos por cateteres e drenos (17)%, lâminas e agulhas (11%);
  • foram esquecidos, principalmente, em cirurgias na região do abdômen/pelve (29%) e vagina (20%);
  • durante cirurgias de Obstetrícia/Ginecologia (26%), Cirurgia Geral (20%) e Ortopedia (19%);
  •  foram achados apenas após a alta em 48% das ocorrências e, ainda na internação, mas após a saída do centro cirúrgico, em 37% dos casos.

Ranking das especialidades cirúrgicas/médicas na retenção de itens cirúrgicos

(em % de objetos esquecidos / n=278)

  1. 1º) Obstetrícia e ginecologia – 26%
  2. 2º) Cirurgia Geral – 20%
  3. 3º) Ortopedia – 18,7%
  4. 4º) Cardiotorácica – 10,4%
  5. 5º) Coluna – 3.6%
  6. 6º) Urologia – 3,6%
  7. 7º) Cuidado de feridas (Enfermagem) – 2,9%
  8. 8º) Vascular – 2,9%
  9. 9º) Anestesia – 2,5%
  10. 10º) Odontologia – 2,5%
  11. 11º) Neurocirurgia – 1,8%
  12. 12º) Enfermagem- 1,4%
  13. 13º) Cardiologia – 1.1%
  14. 14º) Gastroenterologia – 0,7%
  15. 15º) Radiologia Intervencionista – 0,7%
  16. 16º) Transplante – 0,7%
  17. 17º) Emergência – 0,4%
  18. 18º) Nariz, garganta e ouvido – 0,4%

    Fonte: Unintentionally Retained Foreign Objects: A Descriptive Study of 308 Sentinel Events and Contributing Factors. The Joint Commission Journal on Quality and Patient Safety

 

Quais as causas do esquecimento de objetos cirúrgicos?

Para cada item cirúrgico esquecido, os pesquisadores conseguiram identificar, em média, quatro circunstâncias que contribuíram para a retenção não intencional.

A maior parte dos fatores contribuintes (75%) foi classificada como decorrente de fatores humanos: distração, fadiga, realização de várias tarefas ao mesmo tempo, não cumprimento de normas de segurança da instituição.

Em segundo lugar, aparecem os problemas de liderança (25%): falta de políticas de segurança e protocolos de cirurgia segura.

Em terceiro lugar, estão os problemas de comunicação, responsáveis por 22% das circunstâncias que levaram a esquecimentos: houve troca de profissionais durante a operação sem a comunicação adequada, não foi elaborado explicitamente um plano para remoção de objetos usados durante a cirurgia ou informações precisas não foram passadas para o exame final antes do fechamento.

Quais as consequências da retenção não intencional de objetos após cirurgia?

Em quase 70% dos eventos, o esquecimento resultou em procedimentos e dias extras de internação. Em 10%, ocorreu dano grave temporário e em 1,6% culminou na morte do paciente.

E as compressas e as gazes?

Elas estão entre os principais objetos esquecidos, mas ficaram de fora do novo levantamento. Já haviam sido analisadas em um estudo anterior, publicado no ano passado (2). Os resultados não foram muito diferentes. De 319 eventos avaliados que envolviam a retenção de compressas e gazes:

  • 50% foram localizadas no abdômen/pelve, 24% na vagina (24%) e 8,5% no peito mediastino;
  • 29% das circunstâncias contribuintes estavam relacionadas a fatores humanos, 28% a problemas de liderança e 24% a Comunicação;
  • 49% das compressas esquecidas foram encontradas após a alta e 34% durante a internação, mas após a saída do centro cirúrgico;
  • 70% resultaram em procedimentos e dias extras de internação, 15% em danos graves temporários. Um paciente morreu.

Como prevenir a retenção não intencional de itens cirúrgicos?

Os autores chamam a atenção para necessidade de iniciativas complementares de prevenção. Elas são importantes na tentativa de cobrir o máximo de brechas possíveis.

Mesmo ações já consagradas, como a contagem de itens, podem dar margem a imprecisões. Um estudo que avaliou 150 mil intervenções cirúrgicas concluiu que a contagem foi efetiva em 77% das vezes para evitar algum esquecimento (3). Isso não significa que a contagem não deva ser adotada. Mas que é preciso usar táticas complementares. A adoção de compressas e gazes que tenham marcadores que facilitem a detecção pode ser um recurso importante.

Usar levantamentos como esse para identificar as causas prevalentes ajuda a traçar estratégias prioritárias. A seguir, as recomendações dos autores do novo estudo para cercar os principais fatores contribuintes:

Fator contribuinte Recomendação
Fatores Humanos
  • Fornecer treinamento da equipe
  • Solucionar comportamentos perturbadores
  • Minimizar distrações e interrupções
  • Contabilizar objetos inseridos na ferida
  • Explorar metodologicamente o local da cirurgia antes do fechamento
  • Verificar a integridade dos objetos após a remoção
  • Educar sobre os riscos de objetos estranhos retidos não identificados
  • Educar sobre estratégias de redução de risco.
  • Avaliar a competência da equipe
  • Adicionar um alerta eletrônico para a remoção de packing no momento desejado (na alta, por exemplo)
  • Adicionar um alerta para notificar a equipe sobre a documentação exigida e quando raio-x é recomendado
  • Colaborar com os fabricantes para melhorar a segurança do design de dispositivos médicos
Liderança
  • Priorizar cultura de segurança
  • Realizar avaliação de risco proativa
  • Implementar políticas com base na avaliação de riscos
  • Auditar e fornecer feedback sobre o cumprimento de políticas e procedimentos
  • Celebrar os sucessos
  • Incentivar o relato de quase-acidentes
  • Relatar eventos de fragmentos retidos para o fabricante
  • Alocar recursos para educação, treinamento, credenciamento, auditoria e feedback
Comunicação
  • Usar o quadro branco para comunicar a inserção de dispositivos
  • Confirmar verbalmente a remoção de objetos.
  • Discutir a remoção de objetos durante o debriefing padronizado após os procedimentos.
  • Discutir a necessidade de remoção de packing durante transição do cuidado
  • Minimizar ordens verbais não urgentes
  • Prescrever formalmente remoção de packing
  • Documentar remoção e integridade de objetos
  • Fornecer descrição do objeto retido, quando for necessário raio-x
  • Implementar alerta de alta prioridade e relatório verbal do radiologista para o responsável da equipe se um item for identificado

Em novembro de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a nota técnica GVIMS/GGTES No 04/2017, com medidas específicas para prevenção da retenção de objetos após procedimentos cirúrgicos (4). Ao final do texto, é possível fazer o donwload da nota na íntegra.

 

Referências

  1. (1) Steelman, V. M., Shaw, C., Shine, L., & Hardy-Fairbanks, A. J. (2018). Unintentionally Retained Foreign Objects: A Descriptive Study of 308 Sentinel Events and Contributing Factors. The Joint Commission Journal on Quality and Patient Safety. doi:10.1016/j.jcjq.2018.09.001
  2. (2) Steelman, V. M., Shaw, C., Shine, L., & Hardy-Fairbanks, A. J. (2018). Retained surgical sponges: a descriptive study of 319 occurrences and contributing factors from 2012 to 2017. Patient Safety in Surgery, 12(1). doi:10.1186/s13037-018-0166-0
  3. (3) Egorova, N. N., Moskowitz, A., Gelijns, A., Weinberg, A., Curty, J., Rabin-Fastman, B., … Greco, G. (2008). Managing the Prevention of Retained Surgical Instruments. Annals of Surgery, 247(1), 13–18.doi:10.1097/sla.0b013e3180f633be
  4. (4) Brasil. Anvisa. Nota técnica GVIMS/GGTES No 04/2017. Dispõe sobre práticas seguras para prevenção de retenção não intencional de objetos após realização de procedimento cirúrgico em serviços de saúde

 

Objetos esquecidos: estudo revela cirurgias em que retenção é frequente

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