Com a implementação de intervenções tanto no âmbito educacional quanto nos processos institucionais, projeto (1) realizado em Bahrein aumentou de 2% para 69% a taxa de conformidade dos médicos com a diretriz para rastreamento do câncer de mama, uma das principais causas de morte de mulheres em todo o mundo.
Lembrando que quanto mais cedo o câncer for detectado, melhores as chances de cura e as taxas de sobrevivência, ampliar o acesso a exames preventivos – como a mamografia – é caminho importante para garantir a melhor qualidade de vida da população. Porém, o estudo reforça que há evidências de que em muitos casos há falhas no cumprimento dos protocolos.
Cada país define suas próprias diretrizes. Nos Estados Unidos, a indicação é rastrear, com uma mamografia a cada dois anos, mulheres assintomáticas e sem predisposição genética na faixa dos 50 aos 74 anos. No Brasil, o Ministério da Saúde (2) sugere a mamografia bianual para mulheres entre 50 e 69 anos. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/IBGE), em território brasileiro a cobertura de rastreamento está em torno de 60% (3), sendo que existem expressivas diferenças regionais, o que é natural em um país de dimensões continentais.
A cobertura de mamografia depende de diferentes fatores que vão desde a disponibilidade de mamógrafos até a prescrição correta e assertiva dos exames. E ao analisar um Centro de Atenção Primária que recebe mais de 300 pacientes por mês em seu ambulatório, o estudo identificou que raramente os médicos indicavam o rastreamento por mamografia. A revisão retrospectiva de 2019 mostrou que apenas 2% das pacientes elegíveis foram encaminhadas para o exame e que somente metade delas de fato o realizou.
Quais os motivos dessa falha? Entre as causas identificadas estavam:
- Ausência de lembrete no ponto de atendimento
- Ausência de processo de identificação de mulheres elegíveis
- Confusão em relação às diretrizes para rastreamento do câncer de mama
- Restrições de tempo para as consultas
Para implementar melhorias, a equipe utilizou o método Plan-Do-Study-Act (PDSA), sendo que o primeiro ciclo estava dedicado a melhorar o conhecimento dos médicos na atenção primária. Para isso, foram utilizadas estratégias de educação continuada e quatro níveis de treinamento: avaliar a reação dos participantes após as aulas, testar o conhecimento deles, avaliar o comportamento após a conclusão do programa educacional e, por fim, avaliar os resultados da organização como um todo.
Já o segundo ciclo do projeto visava melhorar a identificação das pacientes elegíveis. Nessa fase, foi estabelecido um processo eficiente para engajamento de todos os atores envolvidos na assistência e realizado um treinamento sobre as novas diretrizes englobando também os profissionais da enfermagem e da recepção.
Ao longo do estudo, 825 pacientes que passaram pelo ambulatório preenchiam os critérios para rastreamento do câncer de mama. Após 23 semanas do início do projeto, a taxa de conformidade dos médicos saltou de 2% para 69%. A enfermagem também participou do estudo assumindo o importante papel de disparar lembretes e, ao término da pesquisa, esse processo também apresentou melhora de 79%.
Dessa forma, o que o estudo enfatiza é que a educação do médico está associada à melhor conformidade com as recomendações baseadas em evidências.
Os interessados em saber mais sobre as diretrizes brasileiras para detecção precoce da doença podem clicar AQUI e fazer o download da publicação “Parâmetros Técnicos para o Rastreamento do Câncer de Mama”, do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Referências:
(2) Confira as recomendações do Ministério da Saúde para o rastreamento do câncer de mama
(3) A situação do câncer de mama no Brasil: síntese de dados dos sistemas de informação
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