Home care na rede pública
A Dra. Célia Maria Kira, médica do Hospital Universitário da USP, em São Paulo, tem ampla experiência no PAD – Programa de Assistência Domiciliária – PAD, do HU, que iniciou suas atividades em maio de 2000 com uma equipe multiprofissional que presta atendimento ambulatorial em domicílio.
A seguir, em entrevista exclusiva ao IBSP, a médica traça um panorama do home care em instituições públicas no Brasil e dá dicas práticas para profissionais atuarem com foco na segurança do paciente.
IBSP – No âmbito público, como funcionam os programas de atendimento domiciliar (home care) em hospitais públicos?
Célia Kira – Na cidade de São Paulo, há poucos hospitais públicos que oferecem este tipo de atendimento domiciliar. Temos como exemplo o PAD do HSPE (Hospital do Servidor Publico Estadual), o mais antigo serviço nessa modalidade, o NADI do Hospital das Clínicas, o HSP Municipal, que tem um atendimento pequeno, o PAD do Hospital Universitário da USP e o Hospital Santa Marcelina, que começou um atendimento com equipe mínima há alguns anos.
Habitualmente, há regras de inclusão, como tipo de doença, cuidados necessários, tipo de profissional requerido (e se a equipe pode prover isso ou não) e avaliação do serviço social em relação à moradia da família/cuidador. Depois dessa avaliação inicial, os pedidos costumam ser discutidos com a equipe e, então é marcada uma visita.
IBSP – O que está incluso no home care de redes públicas?
Célia Kira – Muitos serviços públicos começam somente com o profissional médico e da enfermagem e alguns acabam até fechando. Se for possível, é sempre interessante agregar outros profissionais de reabilitação e suporte, tais como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, farmácia, nutrição. Na experiência do PAD-HU tivemos por um período uma cirurgiã-dentista, que foi muito importante.
Parcerias de ensino, seja na graduação ou especialização, nessas áreas da saúde são sempre bem interessantes para “aumentar” a equipe e o leque de cuidados, porém esbarram na dificuldade de continuidade dessas parcerias. Tem-se feito também em algumas regiões da grande São Paulo, um tipo de parceria com as unidades básicas de saúde (UBS) e áreas de atendimento por profissionais de Medicina de Saúde, Família e Família, que atendem também no lar, seja no esclarecimento de dúvidas, sistemas de referência e contra referência e treinamento.
IBSP – Qual a diferença básica entre o home care público e privado?
Célia Kira – Muito diferentemente de home cares privados ou fornecidos pelas operadoras de saúde, nos serviços públicos é oferecido durante os dias úteis e durante o período diurno – e não 24 horas por dia.
IBSP – Há, por exemplo, serviço de coleta domiciliar laboratorial para os pacientes do programa? Oxigenoterapia domiciliar? Empréstimo de equipamentos e de materiais de uso prolongado, como cama hospitalar, cadeira de rodas e aspirador, entre outros, além do fornecimento de materiais de consumo, como por exemplo, materiais para curativos?
Célia Kira – Os outros serviços de apoio logístico e material, como coleta de exames no domicílio e empréstimo de material hospitalar, como cama hospitalar e cadeiras de rodas, sempre dependem da estruturação do serviço e do investimento financeiro.
No PAD-HU conseguiram-se camas para empréstimo por ocasião das trocas de camas hospitalares no hospital, as cadeiras de rodas por um projeto que se concretizou em doação e outros por um tratamento contínuo e árduo junto à administração da instituição. Aspiradores, concentradores de oxigênio, mascaras para CPAP dependem de doações ou compras pela instituição.
Materiais de curativos são fornecidos em sistemas de cotas por paciente e suas necessidades, mas a parceria com as UBS também auxiliam nessa parte.
IBSP – O HU da USP tem serviço de atendimento domiciliar com mais de 15 anos. Que tipo de paciente (com qual enfermidade) pode usufruir? Qual o resultado deste PAD? Bom, ruim?
Célia Kira – O PAD-HU atende pessoas que moram na área geográfica atendida pelo hospital. A maioria dos pacientes tem doenças crônico-degenerativas, como insuficiências cardíaca e respiratória, hepatopatias e sequelados neurológicos (acidentes vasculares cerebrais, doenças de Parkinson, Alzheimer) e também em pós-recuperação de AVC recente. Embora não sejamos um hospital que atende em oncologia, um percentual (18-20%) é de pacientes com câncer em sua fase terminal.
Já atendemos nestes 15 anos mais de 2.700 pacientes, tendo em media cem pacientes ativos no momento, sendo o único serviço de São Paulo que atende na área pediátrica.
O resultado é muito positivo, pois, além da desospitalização com seus benéficos, ajuda na rotatividade de leitos hospitalares, oferece aos pacientes em casa uma equipe multiprofissional com atendimento multidisciplinar. Também é um setor para treinamento e ensino nas áreas de medicina, enfermagem, fisioterapia e fonoaudiologia. E temos um indicador de qualidade importante: ao redor de 28% de óbito no domicílio.
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