A saúde dos profissionais está diretamente atrelada à segurança dos pacientes e, para garantir um ciclo de cuidado eficiente e seguro é indispensável a abordagem sobre a saúde mental desses trabalhadores, principalmente no que tange ao Burnout.
Em um cenário de pandemia no qual os profissionais de saúde ganharam ainda mais visibilidade – visto que campanhas diversas mostraram o empenho e a dedicação desses trabalhadores que por muitas vezes ampliaram suas horas de trabalho diárias, se afastaram de suas famílias e tiveram de tomar decisões bastante difíceis durante o combate ao novo coronavírus – essa situação se torna prioritária.
Segundo a Patient Safety Network (1), o Burnout se consolida quando o esgotamento e o cansaço do profissional levam à exaustão, desmotivação e, por consequência, à ineficácia, e deve ser encarado como um problema organizacional. E esse cenário no qual os profissionais de saúde estão em estado de extrema tensão emocional tem sido associado ao aumento dos incidentes de segurança, incluindo falhas assistenciais, baixa satisfação do paciente e resultados negativos nas outras avaliações.
Visando analisar a relação entre o Burnout e a segurança do paciente, uma revisão sistemática (2) checou 21 estudos já publicados, a maioria abordando enfermeiros e médicos dos Estados Unidos e de países da Europa, e concluiu que há relação direta entre o esgotamento dos profissionais de saúde e falhas na segurança. Além disso, observou que em instituições onde há trabalhadores esgotados, há piora no clima organizacional entre as equipes e baixa satisfação com a rotina de trabalho.
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No atendimento direto aos pacientes, profissionais com Burnout tornam-se mais frios nos relacionamentos, o que gera desconforto e ajuda a reduzir o grau de satisfação. Tudo isso pode comprometer a qualidade da assistência.
Um dos estudos analisados pela revisão aponta que os principais fatores para esse cansaço profissional extremo são: ambiente de trabalho como fonte de estresse, carga horária excessiva e falta de suporte organizacional. Paralelamente, pensando nas relações profissionais, outro estudo avaliado aponta que os principais geradores de conflito são médicos, enfermeiros, gerentes ou profissionais com muitos anos de experiência ocupando cargos de liderança.
Outra revisão sistemática (3) também associa situações emocionais à baixa na segurança do paciente ao descobrir evidências de que dificuldades de bem-estar como, por exemplo, ansiedade, estresse, depressão, problemas na qualidade de vida e altos níveis de Burnout estão diretamente associados a falhas autorrelatadas.
Além disso, aponta uma análise que indica que o Burnout pode ser fator desencadeante de depressão. Essa conclusão foi feita ao observar que 96% dos residentes deprimidos também tinham sinais de esgotamento (Burnout), porém apenas 25% dos profissionais esgotados tinham depressão.
Problema individual ou organizacional?
Não há clareza sobre as taxas de Burnout entre os profissionais de saúde. Alguns estudos apontam prevalência de 20%, outros de 80%. Mas é fato que essa situação existe e precisa ser considerada dentro das políticas organizacionais, visto que, apesar de um estado emocional parecer ser um problema individual, as organizações internacionais confirmam que as causas desse esgotamento são principalmente organizacionais e estão relacionadas à desafios dos sistemas.
Pensando nessa vertente, uma meta análise recentemente divulgada pelo JAMA Network (4) analisa as intervenções controladas para redução do Burnout em médicos e o documento leva à conclusão de que quando a abordagem é ampla, ou seja, está fundamentada na instituição, os resultados são muito melhores do que as abordagens individuais e que atuam especificamente junto às necessidades de cada profissional.
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Como reduzir o Burnout entre os profissionais de saúde?
Um guia elaborado pela Mayo Clinic (5) e divulgado pela Patient Safety Network traz alguns apontamentos interessantes para que as organizações de saúde possam desenvolver estratégias de combate ao Burnout. Foram elencadas nove áreas principais que devem ser abordadas. São elas:
- Carga e demandas de trabalho
- Eficiência e recursos
- Propósito no trabalho
- Cultura e valores
- Controle e flexibilidade
- Apoio social e comunidade
- Integração profissional e pessoal
Para cada uma das vertentes listadas, são apontadas ações que devem ser tomadas no caráter individual de cada profissional da saúde, no ambiente de trabalho, na organização e no cenário nacional como um todo.
Ao falar sobre eficiência e recursos, por exemplo, estimula a melhoria contínua do desempenho individual de cada trabalhador ao incentivar habilidades de priorização, capacidade de delegar e de dizer não; aponta a necessidade do trabalho em equipe e da checagem da eficiência dos processos dos grupos; promove questões organizacionais como a implementação de sistemas eficientes e prontuários eletrônicos, bem como a integração do cuidado; e aponta a urgência de políticas públicas e de regulações que auxiliem na melhor eficiência do sistema como um todo.
Referências:
(2) Influence of Burnout on Patient Safety: Systematic Review and Meta-Analysis
(3) Healthcare Staff Wellbeing, Burnout, and Patient Safety: A Systematic Review
(4) Controlled Interventions to Reduce Burnout in Physicians – A Systematic Review and Meta-analysis
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