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Overdiagnosis: rastrear câncer de tireoide faz mais mal do que bem?

Overdiagnosis: rastrear câncer de tireoide faz mais mal do que bem?
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O descobrimento precoce desse tipo de doença não resulta no aumento de sobrevida dos pacientes

A US Preventive Services Task Force (USPSTF) se posicionou contra o rastreamento do câncer de tireoide. Isso significa que os médicos do mundo inteiro precisam ser mais criteriosos ao solicitar exames para buscar evidências deste tipo de tumor maligno.

 

Essa orientação (recomendação de grau D) serve para pessoas assintomáticas, já que os possíveis benefícios dessa triagem são mínimos, podendo trazer mais malefícios. Levando em conta o contexto histórico – tanto na patologia quanto na epidemiologia dos cuidados médicos – acredita-se que tenha sido uma decisão fácil.

História
O câncer da tireoide pode ser considerado o mais comum da região da cabeça e pescoço e é três vezes mais frequente no sexo feminino. Nos EUA, a doença corresponde a 3% de todos os cânceres que atingem o sexo feminino. No Brasil correspondeu a 1,3% de todos os casos de câncer matriculados no INCA de 1994 a 1998, e a 6,4% de todos os cânceres da cabeça e pescoço.

Em entrevista exclusiva ao Portal IBSP, o Dr. Carlos Henrique Teixeira, oncologista clínico do Centro de Oncologia do Hospital alemão Oswaldo Cruz, corrobora a orientação e cita dados e exemplos, como o ocorrido com a ex-presidente argentina, Cristina Kirchner.

IBSP – Os benefícios da triagem do câncer de tireoide em pessoas assintomáticas são realmente mínimos?
Carlos Henrique Teixeira – Sim. Essa constatação e orientação do artigo publicado no JAMA Oncology da força tarefa americana constatou que em cerca de 700 artigos publicados nos últimos anos, que o descobrimento precoce desse tipo de doença não resulta no aumento de sobrevida dos pacientes. Os dois principais exames apontados no estudo, a ultrassonografia e apalpamento, revelam que não houve ganho no tratamento, diferente de outros tipos de câncer, em que a descoberta precoce se faz importante para a cura dos pacientes.

O câncer de tireoide é indolente e de evolução lenta, o que não apresentaria sintomas, não levaria a morte e não precisaria da cirurgia e, posteriormente, da reposição hormonal durante a vida do paciente.

IBSP – A realização frequente de ultrassonografia, exames como a ressonância magnética ou o sofisticado PET-CT podem trazer malefícios ao paciente sem sintomas de tumores tiroidianos?
Carlos Henrique Teixeira – Exames podem levantar dúvidas e não serem conclusivos, levando a casos de cirurgias, em que se descobre que não havia o tumor no material coletado. Ou seja, não havia o câncer. Esse modismo do exame precoce leva a um rastreamento excessivo. A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por exemplo, fez uma biopsia em que se levantou a suspeita do câncer, que acabou não se confirmando na cirurgia.

IBSP – É preciso relativizar os benefícios da detecção precoce do câncer frente aos riscos reais de evolução da doença, além dos riscos do próprio tratamento?
Carlos Henrique Teixeira – Sim. Pelo risco baixo de evolução, acaba não fazendo diferença essa descoberta precoce e não trazendo benefício para sobrevida dos pacientes. Isso, claro, em pessoas que não apresentam sintomas ou sem propensão nenhuma. Pessoas com síndrome genética elevada ou exposição a desastres atômicos são casos diferentes, em que o exame pode trazer benefícios, sim.

IBSP – Um rastreamento excessivo pode expor a população a uma verdadeira epidemia de câncer de tireoide?
Carlos Henrique Teixeira – Não podemos dizer epidemia, mas um boom e uma evolução nítida, sim. Para se ter uma ideia, em 1975, 4,9 pessoas, a cada 100 mil, eram diagnosticadas com câncer de tireoide, nos Estados Unidos. Em 2014, esse número saltou para 14,3 pessoas diagnosticadas. A popularização do exame, mesmo não sendo recomendada pelos especialistas, não reduziu a mortalidade, que era baixa e continua baixa, com uma média de 0,5 pessoas, a cada grupo de 100 mil, por ano.

IBSP – Uma vez diagnosticadas, as pessoas com câncer de tireoide querem e recebem tratamento. Pode se dizer que, em alguns casos de pessoas assintomáticas, o tratamento pode fazer mais mal do que bem, já que o paciente passa a demandar tratamento de suporte por toda a vida, sem falar das complicações associadas ao procedimento cirúrgico?
Carlos Henrique Teixeira – Com esse “overdiagnosis”, pessoas que clinicamente não teriam nenhuma manifestação de repercussão com sintomas ou muito menos o óbito acabam fazendo o tratamento e cirurgia de um componente indolente, pouco agressivo e com bom prognóstico.

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