Colocar o tema da segurança do paciente em destaque faz com que a equipe discuta os eventos adversos e as formas de preveni-los, principalmente quando se fala em bebês recém-nascidos
O Dr. John Chuo, neonatologista, Improvement Advisor do Institute for Healthcare Improvement, e gerente de qualidade neonatal do Children’s Hospital of Philadelphia nos EUA, acredita que uma equipe inteligente é formada por diversos profissionais que atuam em um hospital, da equipe de limpeza aos enfermeiros e médicos.
A seguir, confira a entrevista exclusiva do Dr. John Chuo ao Portal IBSP.
IBSP – Colocar segurança do paciente na pauta das discussões de saúde ajuda a evitar eventos adversos e, por consequência, melhora a qualidade da assistência?
John Chuo – É importante falar sobre segurança do paciente porque existem milhares, centenas de erros que acontecem todos os dias. E esses erros são evitáveis. Uma maneira de se conscientizar sobre esses eventos, é falar sobre eles. E nós temos que nos sentir confortáveis de falar sobre segurança do paciente e o que podemos fazer para prevenir os erros. E todos que atuam no sistema de saúde precisam estar engajados nessa conversa. Afinal, as equipes inteligentes e funcionais incluem o paciente, os médicos, as enfermeiras, o farmacêutico, a recepcionista, o fisioterapeuta, a pessoa responsável pela limpeza. Todo mundo é parte da equipe.
IBSP – As trocas de informação e boas práticas entre culturas e países distintos podem colaborar para a melhora da qualidade da assistência?
John Chuo – Não importa de que parte do mundo nós somos, formamos uma grande equipe. Cada lugar tem uma maneira diferente de fazer, mas o conceito de segurança do paciente é o mesmo. Eu, particularmente, quero ver o que o que as outras pessoas estão fazendo para aprender e adaptar ao meu ambiente local, seja hospital ou clínica. É muito importante aprendermos uns com os outros.
IBSP – O senhor é especialista em neonatologia. Quais são os principais desafios em termos de segurança do paciente nesta área da medicina?
John Chuo – Na neonatologia, nós receitamos muitos antibióticos, o que pode comprometer a saúde dos bebês. O primeiro problema é que pode haver um erro de prescrição, que é quando você receita o antibiótico errado. Isso não acontece muito, mas uma vez já é demais. O outro problema recorrente é o tempo do antibiótico, que não se trata de um erro, mas de refletir sobre as melhores práticas. Qual é a melhor saída para tratar um bebê com sepse? Você prescreve um tratamento de dois ou de sete dias? A resposta é simples: siga as melhores práticas. Isso é segurança do paciente. Outro desafio é a questão das vacinas, pois precisamos conversar com os pais para que eles entendam a importância da vacinação.
IBSP – Como reduzir eventos adversos?
John Chuo – Uma maneira de reduzir os erros é pensar em todos como uma equipe, e uma equipe inteligente. Quando falo sobre inteligência, nós não falamos de QI dos membros da equipe, mas sobre como a equipe consegue trabalhar bem junta, usando a expertise de cada um, confiando um no outro.
IBSP – A segurança psicológica entre nesta ceara?
John Chuo – Quando um membro da equipe tiver uma dúvida, se a equipe for inteligente, ele vai se sentir seguro de perguntá-la aos colegas, o que pode garantir que um evento adverso seja evitado.
IBSP – Quais as boas práticas em neonatologia para, por exemplo, evitar erros de administração de medicamentos?
John Chuo – Na neonatologia, aplicamos um checklist. Todas as segundas e quintas-feiras, durante a troca de turnos e rounds, nós verificamos toda a medicação que o bebê está tomando para conciliá-la. Só leva 30 segundos e economiza tempo mais pra frente, já que o farmacêutico não precisa ligar e dizer: “Isso não está claro” ou “Você ainda quer que o bebê tome ranitidina ou esse antibiótico?” Então, recomendo a conciliação de medicação nos rounds.
A outra ação importante é conciliar a medicação quando os bebês chegam de outro hospital, pois isso garante que o que ele estava tomando antes seja realmente o que vai receber no hospital. E quando o bebê sair do hospital é fundamental verificar a lista de medicamentos novamente: “Essa é a medicação correta? Os pais sabem como dar o remédio?”. Neste momento, garantimos que os pais aprendam e se sintam confortáveis em dar o remédio.
O terceiro ponto é que nós aplicamos, agora, em um programa de Telemedicina: os pais saem do hospital, nós fazemos uma conversa por vídeo dois dias depois e garantimos: “Como estão as coisas? Estão dando o remédio? Posso ver o remédio?”. Às vezes, nós pedimos aos pais para misturarem a medicação para ver se o procedimento está sendo feito corretamente. Todas essas etapas são cumpridas para que os bebês não recebam a medicação errada.
IBSP – Qual é o custo de mudar uma cultura, para que os pacientes fiquem mais seguros?
John Chuo – Toda mudança é muito complicada para uma instituição de saúde, porque há o impacto do custo. Mas é preciso mudar esse pensamento. Donabedian já disse: “Um sistema é perfeitamente desenhado para apresentar os resultados que oferece”. Então, se não mudarmos, vamos ter os mesmos resultados.
Com isso, acredito que é muito importante que a administração do hospital, os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde, entendam que, se não mudarmos a maneira de trabalhar em equipe, juntos, vamos ter os mesmos resultados. Os erros de medicação, a segurança do paciente, números, estatísticas, não vão mudar. E o custo, na verdade, em longo prazo, será menor. Então, se nós conseguirmos aumentar a segurança do paciente, vamos diminuir os custos, porque os erros são caros. E isso é muito, muito importante: temos que mudar o padrão mental de médicos, enfermeiros e todo mundo que pensa em cuidado da saúde.
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