Publicação traz diretrizes e estratégias para evitar erros; texto menciona importância da notificação
Os pacientes da neonatologia, principalmente os prematuros, apresentam farmacocinética e farmacodinâmica altamente variáveis: maior proporção de água corporal total, barreira hematoencefálica imatura, depuração renal e hepática reduzidas e volumes de distribuição distintos para fármacos hidrofílicos e lipofílicos. Essa combinação amplia a janela para subdosagem, superdosagem e toxicidade, tornando a segurança medicamentosa um desafio crítico do cuidado.
Publicado em 2023, o livro Best and Safe Practices in Different Contexts of Neonatal Care discute tópicos cruciais sobre os cuidados neonatais, sendo que um dos dez capítulos trata especificamente de medicação e traz princípios e recomendações sobre processos de administração, armazenamento, rotulagem, validade, reconciliação, vias de administração, cálculos e composição, medicamentos de alto risco, tecnologia e aprendizagem contínua em neonatologia.
Porém, mais do que cumprir normas, enfatiza que tratar o erro como sintoma de falhas do sistema é essencial para melhorar. A publicação menciona, por exemplo, práticas que ajudam a tornar a medicação segura para neonatos. Entre elas, destaca a cultura justa e não punitiva, que incentiva o relato de erros e foca nas causas raiz. Outro ponto mencionado diz respeito a tornar o sistema de notificação o mais acessível possível, para que os profissionais de saúde possam preencher os formulários com facilidade.
Na sequência, é preciso investir na análise estruturada, combinando causa raiz com avaliação de fatores humanos. Aqui, a utilização do Protocolo de Londres pode ser uma estratégia interessante. Posteriormente, investir em feedback para compartilhamento das lições aprendidas, implementação de ações de melhoria e monitoramento dos indicadores obtidos e dos resultados.
Ainda, a publicação reforça que protocolos de dose por quilo e, quando indicado, por superfície corporal, com ajustes por idade gestacional e pós-natal, são mandatórios. Além disso, cita que a padronização de fórmulas e o uso de calculadoras clínicas integradas ao prontuário, para minimizar o cálculo manual, também são estratégias de segurança.
Preparo e administração de medicamentos – Farmácia clínica e enfermagem devem operar com técnica asséptica, dupla checagem independente e rotulagem completa (fármaco, concentração, paciente, validade pós-preparo). Em via IV, atente para osmolaridade e pH: soluções >900 mOsm/L exigem acesso central para evitar flebite e extravasamento. Bombas de infusão inteligentes com bibliotecas neonatais reduzem erros de taxa; em via oral, seringas dosimétricas calibradas e compatibilidade com nutrição enteral evitam aspiração e interações.
Armazenamento, rotulagem e validade – É importante aderir a faixas térmicas (2 – 8 °C para itens refrigerados; 15 – 30 °C em temperatura ambiente), controle de umidade e proteção à luz, que preservam a potência. Além disso, a rotulagem legível e os códigos de barras suportam a verificação à beira-leito, assim como a rotina de stock rotation (FEFO), auditorias e descarte normatizado de itens vencidos, que completam a barreira de defesa.
Reconciliação e vias de administração – Transições de cuidado (sala de parto/UTI neonatal/enfermaria) elevam as discrepâncias. Para melhoria, é interessante fazer a reconciliação medicamentosa estruturada, com participação do farmacêutico e documentação no prontuário. Há, no livro, especificações para cada via (oral, enteral, IV, tópica, inalatória e parenteral).
Medicamentos de alto risco e tecnologias em neonatologia
Inotrópicos e antiarrítmicos, sedoanalgesia, antimicrobianos, nutrição parenteral e quimioterápicos exigem monitorização contínua, metas de níveis terapêuticos quando aplicável, order sets padronizados e revisão diária de necessidade. Stewardship antimicrobiano evita amplo espectro desnecessário; TPN requer programa de qualidade próprio (composição, estabilidade e controle de eletrólitos).
No campo tecnológico, registros eletrônicos com CPOE somados ao suporte à decisão (ajuste por peso/idade, alertas de interação/alergia), BCMA (administração por código de barras), sistemas automatizados de dispensação e bibliotecas de bombas específicas para neonatos reduzem a variabilidade e o erro humano. A telefarmácia pode ampliar a verificação clínica em horários de menor cobertura.
Por fim, o capítulo é bastante completo e traz inúmeras estratégias para a segurança medicamentosa neonatal, que depende de precisão técnica, processos padronizados, uso criterioso de tecnologia e, sobretudo, de uma cultura não punitiva que incentiva a notificação de eventos adversos, aprende com os erros e investe em melhoria contínua.
Referência:
Avalie esse conteúdo
Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0