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Síndrome de burnout: qual é o papel dos hospitais na prevenção?

Síndrome de burnout: qual é o papel dos hospitais na prevenção?
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Não há mais dúvidas de que o burnout, síndrome caracterizada por um profundo desgaste relacionado à vida profissional, é um sério problema para os profissionais de saúde – e para os pacientes. Um dos levantamento mais recentes sugere que médicos com a síndrome de burnout expõe os pacientes ao dobro do risco de sofrer algum incidente na assistência à saúde (1). Diante de evidências como essa, um grupo de acadêmicos lançou uma provocação às instituições de saúde em uma edição recente do BMJ, ao atribuir aos hospitais e demais organizações a responsabilidade de cuidar de seus funcionários. 

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“Precisamos de estratégias mais eficazes”, escreveu o grupo (2). Segundo os autores, as ações mais comuns atribuem aos profissionais a responsabilidade de cuidar deles mesmos, de ser mais resiliente e de saber lidar por conta própria com fatores estressores. “Essa abordagem individualista ignora que fontes crônicas de estresse estão no ambiente de trabalho: incivilidade, falta de funcionários, medidas de austeridade que estão além do controle individual”.

O que é a síndrome de burnout

É um quadro de desgaste emocional profundo que afeta profissionais das mais variadas áreas. As três principais características são descritas pela Organização Mundial da Saúde, a OMS:

  • sentimento de falta de energia, exaustão;
  • distanciamento mental do trabalho, negativismo ou cinismo relacionado ao trabalho,
  • eficiência profissional reduzida.

A 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID) destaca que a síndrome de burnout não é uma condição médica, mas um dos fatores que influenciam o estado mental das pessoas e pelos quais elas costumam procurar os serviços de saúde (3). 

Uma detalhe importante é que a OMS define a síndrome de burnout como uma fenômeno ocupacional, isto é, relacionado estritamente ao trabalho – um reconhecimento que deve ajudar as organizações de saúde a incorporarem medidas de prevenção institucionais. 

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O que estamos fazendo para prevenir a síndrome de burnout?

A literatura científica sugere que ainda muito pouco. As ações que existem são tímidas,  quando comparadas ao tamanho do problema. Além disso, as que se propõem a promover mudanças no sistema são escassas. 

Uma meta-análise que avaliou 15 estudos encontrou apenas três baseados em intervenções estruturais no ambiente de trabalho, como diminuição de jornadas. Os 12 restantes tinham como foco treinamento para controle de estresse, melhorar comunicação e incentivar o autocuidado dos profissionais (4). Tanto as abordagens individuais quanto sistêmicas foram importantes para diminuir o nível de desgaste das equipes, um indício de que os dois tipos de medidas são importantes. Mas, em razão da falta de programas estruturais, os pesquisadores tiveram dificuldade de encontrar estudos que avaliassem como como as duas abordagens funcionariam em conjunto, não isoladamente.

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Síndrome de burnout: um novo indicador de segurança?

Parece uma estratégia polêmica, mas que pode pressionar por ações mais eficazes, segundo autores do artigo do BMJ. É preciso transformar a percepção da síndrome de burnout de um problema do indivíduo para um problema da instituição. Um caminho para isso é transformar o problema em um indicador de segurança, portanto, passível de monitoramento e de ser objeto de projetos de melhoria. 

Cada departamento deve ser avaliado separadamente – ou seja, cada um teria seu próprio resultado (não um dado geral para instituição). Essa estratégia permite mapear com mais precisão quais são os fatores motivadores de desgaste em cada unidade.

Outro detalhe importante é construir o indicador da síndrome de burnout como uma medida agregada, que leve em consideração produtividade, rotatividade e índices de segurança para a toda a equipe, não individualmente. “A síndrome de burnout é um problema social, enraizado nos relacionamentos que as pessoas constroem com seus times”, escrevem os pesquisadores.

Apostar em medidas de prevenção da síndrome do burnout também é uma maneira de engajar diretamente toda a equipe na promoção de um assistência de saúde segura e de qualidade. É mais fácil pensar concretamente em sugestões que mudem as condições de trabalho e que façam os profissionais se sentirem comprometidos com seu trabalho, do que pensar em soluções para a proposição abstrata  “como melhorar a qualidade do atendimento do hospital”.

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Construindo o “business-case” do bem-estar

O novo artigo do BMJ não é o primeiro a chamar as organizações de saúde para a responsabilidade de prevenir e combater a síndrome de burnout entre seus funcionários. Outros autores já fizeram algo parecido, ao sugerir que não fazê-lo é algo que ameaça as instituições de saúde financeiramente. 

O desgaste da equipe se traduz em problemas de viabilidade para instituição, já que traz custos associados à alta rotatividade da equipe, perda de renda em razão do declínio da produtividade, riscos em relação à baixa qualidade do cuidado, insatisfação dos pacientes e problemas de segurança. “A melhoria é possível, o investimento é justificado e o retorno do investimento é mensurável”, incitou um artigo do Jama International Medicine, em dezembro de 2017 (5). “Abordar esta questão não é apenas responsabilidade ética da organização, é também uma responsabilidade fiscal.”

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Como as instituições de saúde podem prevenir o BURNOUT 

 

Ações devem ser baseadas em seis dimensões importantes para os profissionais no trabalho

* Ajustar carga de trabalho
Delimitação de jornadas e de funções ajudam a proporcionar descanso e equilíbrio

* Garantir autonomia profissional
Alienação causa desmotivação. Profissionais que sentem poder influenciar decisões são engajados

* Reconhecer e valorizar
Alimenta a satisfação intrínseca, a motivação central em qualquer tipo de trabalho

* Garantir senso de comunidade
O ambiente deve fomentar uma relação entre colegas de confiança e apoio

* Promover equidade
Atitudes e decisões percebidas como injustas despertam cinismo, raiva e hostilidade

* Ser fiel aos valores
Foram eles que atraíram os profissionais para aquele trabalho – e são a maior conexão deles com a instituição

IBSP: Segurança do Paciente - Síndrome de burnout: qual é o papel dos hospitais na prevenção?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: JAMA Intern Med. 2018;178(10):1317–1330.

Referências

(1) Panagioti M, Geraghty K, Johnson J, et al. Association Between Physician Burnout and Patient Safety, Professionalism, and Patient Satisfaction. A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Intern Med. 2018;178(10):1317–1330. doi:10.1001/jamainternmed.2018.3713

(2) Montgomery, A., Panagopoulou, E., Esmail, A., Richards, T., & Maslach, C. (2019). Burnout in healthcare: the case for organisational change. BMJ, l4774. doi:10.1136/bmj.l4774 

(3)  World Health Organization. Burn-out an “occupational phenomenon:” International Classification of Diseases. 2019 

(4) West, C. P., Dyrbye, L. N., Erwin, P. J., & Shanafelt, T. D. (2016). Interventions to prevent and reduce physician burnout: a systematic review and meta-analysis. The Lancet, 388(10057), 2272–2281. doi:10.1016/s0140-6736(16)31279-x 

(5) Shanafelt, T., Goh, J., & Sinsky, C. (2017). The Business Case for Investing in Physician Well-being. JAMA Internal Medicine, 177(12), 1826. doi:10.1001/jamainternmed.2017.4340

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