Educação, protocolos e checklists são ferramentas que aumentam a segurança
A cultura de segurança deve ser muito trabalhada também no transporte inter-hospitalar de pacientes graves, situação comum quando há necessidade de locomover esse paciente para outra instituição mais adequada ao seu tratamento.
Na Noruega, um estudo qualitativo (1) entrevistou 20 profissionais de saúde entre médicos, enfermeiros e aqueles atuantes nas ambulâncias para compreender detalhes sobre organização e qualidade desse transporte.
Os profissionais tiveram a oportunidade de caracterizar sua visão sobre processo do transporte inter-hospitalar. Apesar de ter sido feito em realidade bem distinta da nossa, é interessante tentar fazer um paralelo com o que vivenciamos aqui no Brasil, em busca de aprendizados. Listamos essas percepções abaixo, conforme o relato dos profissionais entrevistados:
- Há escassez de profissionais para realização do transporte adequado
- Há escassez de equipamentos e recursos físicos
- Faltam orientação clínica e protocolos para o transporte inter-hospitalar
- Há dificuldade de acesso às diretrizes ou falta obrigatoriedade em cumpri-las
- Falta treinamento específico para o transporte inter-hospitalar de pacientes graves
- A troca de experiências e aprender com as falhas dos outros e com os eventos adversos ocorridos são ações importantes
- Trabalhar sozinho aumenta a carga de insegurança
- O transporte aumenta a instabilidade do paciente e pode levar à deterioração do quadro clínico
- Há muita diferença entre o trabalho intra-hospitalar e o trabalho extra-hospitalar
- A preparação para o transporte é um processo demorado
- Falhas na comunicação de informações vitais do paciente aumentam o risco
- Ter a oportunidade de acionar outro especialista por telefone em caso de dúvidas durante o transporte é importante
- A notificação dos eventos adversos ocorridos durante o transporte foi apontada como desconfortável e/ou demorada
Checklist
Muito relevante para garantir a segurança dos pacientes em diferentes situações da assistência, um checklist para o transporte inter-hospitalar não foi mencionado espontaneamente por nenhum entrevistado do estudo, o que sugere uma falta de compreensão sobre a importância da ferramenta. Quando questionado, um dos entrevistados chegou a afirmar: “não existe um checklist e deveríamos ter; eu tenho minha própria lista de verificação na minha cabeça”.
Pacientes intubados
Já na Suécia, outro estudo (2) entrevistou 12 profissionais de saúde especificamente sobre as melhores estratégias para manter a segurança do paciente intubado que precisa de locomoção (situação comum durante os ápices da pandemia de covid-19).
Destaque para ações importantes:
- Troca de informações claras sobre o estado do paciente para melhor identificação de riscos e antecipação de potenciais problemas
- Necessidade de estabilizar o paciente antes da saída
- Preparo adequado de medicamentos e equipamentos necessários para o transporte
- Possibilidade de solicitar assistência durante intercorrências no transporte
Por fim, ambos os estudos trazem percepções semelhantes e enfatizam a importância de uma comunicação clara e eficiente entre a equipe hospitalar e a que acompanhará o paciente durante o transporte; a necessidade de adesão a ferramentas – como protocolos bem estabelecidos e checklists – para a redução dos riscos; e a necessidade de treinamento de todos os envolvidos para a garantia da segurança do paciente crítico. Segundo Lucas Zambon, diretor científico do IBSP, “a despeito de serem estudos observacionais relativamente pequenos, sua importância está em despertar nosso interesse em avaliar nossa realidade, e identificar as oportunidades de melhoria”.
Referências:
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