Estudo sugere que apesar de demorarem mais, as passagens de plantão em grupo geram menos interrupções, aumentando a qualidade da comunicação e reduzindo as falhas na assistência
Considerando que diminuir erros de comunicação é uma meta central da Segurança do Paciente, qual a melhor maneira de fazer as trocas de plantões para diminuir os riscos?
Um estudo de coorte observacional prospectivo (1) realizado nos Estados Unidos e publicado pela PubMed fez essa análise comparando trocas individuais e trocas coletivas. O objetivo foi entender qual o modelo provocava menos interrupções nesse processo e na comunicação entre as equipes.
Isso porque a troca de informações (conhecida como Handoff na literatura em inglêsa) entre os profissionais de saúde que faziam a mudança de plantão é um momento crítico com papel importantíssimo para a garantia de continuidade dos tratamentos e acompanhamentos.
É nesse momento que as equipes têm a oportunidade de repassar informações essenciais do paciente, como histórico da doença, resultados de exames físicos, detalhamento dos sinais vitais, diagnóstico diferencial, intervenções e exames. Acredita-se, inclusive, que falhas nesse processo contribuam com aproximadamente 80% das falhas médicas.
A literatura já apontava que quando as equipes eram continuamente interrompidas durante a troca, a eficiência e a produtividade eram prejudicadas, aumentando o tempo do procedimento, causando mais readmissões dos pacientes, diminuindo o tempo de interação entre o profissional e o paciente e gerando mais telefonemas para consultas.
Para essa avaliação, os pesquisadores observaram interrupções emergenciais (como necessidade de reanimação cardiopulmonar de pacientes) e não emergenciais (para situações que não exigiam resposta imediata). Interessante observar que essas interrupções aconteciam tanto por telefone quanto presencialmente.
O teste foi dividido em dois períodos, sendo que no primeiro (antes de 1º de julho de 2021) foram feitas 58 trocas de plantão individuais e, no segundo (depois de 1º de julho de 2021), 65 trocas em grupo.
Embora as trocas em grupo tenham se mostrado mais demoradas (13,7 minutos contra 8 minutos), o número de interrupções foi menor considerando o volume de interrupções por minuto (0,05 contra 0,16), as interrupções não emergenciais e o número total de interrupções presenciais do que nas trocas individuais.
Com isso, o estudo sugere que fazer as trocas de plantão de forma coletiva gera menos interrupções, melhorando o fluxo de trabalho, e potencialmente impactando a qualidade da assistência, a segurança dos pacientes e os desfechos.
A troca individual consistia na comunicação direta entre o profissional que estava deixando o plantão e aquele que o estava assumindo. Ou seja, o enfermeiro falando com o enfermeiro, o auxiliar com o auxiliar e o médico com o médico, todos de forma individual.
Já nas trocas em grupo, estavam envolvidos todos os profissionais que pertenciam à equipe em uma troca de plantão similar a uma reunião onde todos ouviam as observações de todos acerca de todos os pacientes em assistência.
Neste sentido, o Dr. Lucas Zambon, Diretor Científico do IBSP, discute:
Esse é um estudo interessante pois aborda um tema pouco explorado. Aqui temos um estudo que demonstra o impacto em interrupções nas transições de cuidado, as ditas trocas de plantão, e ainda que não possamos concluir que ocorram menos eventos adversos (já que este não foi a medida central do estudo), é possível imaginar que isso seja possível […] Há potenciais ganhos secundários neste cenário testado, quanto ao trabalho em equipe, algo crítico na lógica dos Fatores Humanos. O desafio é criar um ambiente propício para isso em enfermarias e outros ambientes de cuidado, já que em UTI isso já tende a ser coberto com as visitas multiprofissionais.
Referência
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