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UTI – Como é a tomada de decisão para prescrição de antibióticos?

UTI – Como é a tomada de decisão para prescrição de antibióticos?
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Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), é recorrente que os médicos tomem decisões diante de incertezas diagnósticas, sob pressão e arcando com circunstâncias de alto risco. Considerando que nesse ambiente crítico muitos pacientes apresentam sintomas naturalmente atrelados a infecções (como febre, por exemplo), os antibióticos acabam amplamente prescritos, visto que diferenciar uma infecção de outro quadro clínico torna-se um desafio. Em consequência desse cenário, a resistência antimicrobiana surge como uma grande preocupação nas UTIs.

Visando compreender quais os fatores que fundamentam a tomada de decisão sobre a prescrição de antibióticos para pacientes internados na UTI, uma pesquisa inglesa atuou em quatro unidades de terapia intensiva do Reino Unido.

Importante destacar que os hospitais ingleses contam com consultores que normalmente têm mais de uma década de experiência e assumem a tomada de decisão sobre prescrição ou não de antibióticos sempre com o auxílio de microbiologistas. Porém, dentro das UTIs, os intensivistas têm poder de decisão final. Paralelamente, os farmacêuticos auxiliam na escolha do medicamento, na definição da dosagem, do tempo de tratamento e no monitoramento.

Assim, profissionais selecionados foram questionados sobre quais fatores influenciavam a decisão do corpo clínico na prescrição de antimicrobianos na UTI. Paralelamente, outros profissionais foram entrevistados. Para tal, foram envolvidos dois casos hipotéticos que traziam pacientes com infecções do trato respiratório. O primeiro questionava sobre iniciar ou não iniciar a administração de antibióticos nesse paciente e o segundo mostrava um paciente já em uso de antibióticos e os médicos deveriam decidir por seguir a administração do medicamento, mudar ou interrompê-la.

Após analisar todos os retornos — que geraram mais de 10 horas de gravações anonimizadas — a pesquisa sugere que os médicos realmente prescrevem ou mantém a prescrição de antibióticos diante da incerteza, visto que eles consideram melhor “pecar pelo excesso”. Assim, mesmo demonstrando ciência quanto ao problema da resistência antimicrobiana, as preocupações com os possíveis danos da medicação raramente superavam a percepção da necessidade dessa administração. Além disso, o corpo clínico usava como justificativa o fato de que mesmo que não fossem usados para curar alguma infecção, os antibióticos preveniam a deterioração do paciente e a mortalidade.

Por outro lado, em casos em que o paciente já estava recebendo doses de antibióticos, a decisão por manter a prescrição vinha fundamentada na percepção de que a interrupção precoce poderia aumentar o risco de resistência antimicrobiana. Diante da certeza de uma infecção bacteriana onde o curso do medicamento estaria concluído, aí sim os médicos sentiam segurança em finalizar a prescrição.

A pesquisa também apresentou o contexto de proteção do médico, que pode ser questionado quanto a decisão de não administrar antibióticos ou interromper o medicamento, mas é raramente questionado quanto à decisão de prescrever o fármaco.

Suporte multidisciplinar e protocolos institucionais

À pesquisa, os médicos relatavam que a atuação de microbiologistas clínicos e farmacêuticos aumentam a confiança do intensivista para a tomada de decisão de interromper a administração de antibióticos potencialmente desnecessários. Porém, há certa preocupação com o fato de os microbiologistas não examinarem os pacientes, podendo tornar a recomendação imprecisa.

Outro ponto relevante apontado na pesquisa é que as normas locais também influenciam a tomada de decisão, sejam as informais, listadas pelos próprios médicos; as institucionais oficiais; ou as políticas públicas criadas para evitar a resistência antimicrobiana.

Em resumo, as percepções dos médicos sobre as necessidades de administração de antibióticos na UTI parecem superar as preocupações relativas ao medicamento, um comportamento compreensível. Diante dessa percepção, a pesquisa sugere ser mais efetivo reforçar os potenciais danos aos pacientes do uso de antibióticos do que falar sobre resistência antimicrobiana. Além disso, enfatiza que o diagnóstico molecular pode encorajar os médicos a prescrever antibióticos mais assertivos, facilitar a interrupção do uso caso seja identificado um vírus ou se nenhuma bactéria for encontrada.

Referências:

(1) Understanding decisions about antibiotic prescribing in ICU: an application of the Necessity Concerns Framework

 

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