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Biologia protege troca de bebês? Só a identificação correta garante

Biologia protege troca de bebês? Só a identificação correta garante
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Identificação do Paciente é Fundamental em Maternidade

 

Lucas Santos Zambon

 

“Esse não é seu filho?”, perguntou a enfermeira ao trazer o recém-nascido para o quarto da mãe. Não, não era. Foi o que um casal descobriu em uma maternidade da capital paulista em 29 de abril de 2015. Eles esperavam uma menina, mas um menino foi levado ao quarto.

O caso teve consequências mais graves porque a troca foi identificada pelos pais e desfeita. Mas, se fossem crianças do mesmo sexo, será que o desfecho seria o mesmo? A mãe relatou em matéria do Estadão que a filha dela nasceu cabeluda e o bebê que levaram a ela tinha “entradas” e pouco cabelo, o que mostra que a mãe estava atenta, o que é bom.

Mas o contexto é complexo. Imagine: o calor da emoção de seu filho nascendo, o efeito das medicações, uma criança enrolada em lençóis hospitalares e com “cara de joelho” sendo apresentada rapidamente para a mãe, o primeiro “selfie” batido e a criança indo para o berçário, só horas depois a criança voltando ao quarto da mãe. Será que é mesmo seu filho? Pode ser que não seja tão óbvio assim reconhecer. E essa é uma rotina comum a muitas maternidades. Nessas circunstâncias, não seria impossível uma troca de bebês passar batida.

Laço de sangue

Porém o que pouca gente sabe é que a biologia de certa forma protege a ocorrência de troca de crianças. Em um artigo publicado na British Journal of Nursing já há alguns anos, foi verificado que 65,9% das mães reconhecem seus bebês pelo choro, e 52,3%, pelo cheiro. No entanto, apesar de a natureza ser fantástica, não dá para contar com ela (e com a sorte), para que uma troca de bebês não ocorra.

Para isso, existem processos de identificação nas instituições que prestam assistência em saúde. A identificação de pacientes é um ponto chave dentro de políticas de segurança do paciente para hospitais, clínicas ou laboratórios. Especialmente quando falamos de recém-nascidos, a identificação correta previne, além de trocas, sequestros de bebês.

No Brasil, a identificação correta faz parte das estratégias obrigatórias do Programa Nacional de Segurança do Paciente da ANVISA/Ministério da Saúde (se tiver curiosidade, leia a RDC Nº 36, DE 25 DE JULHO DE 2013). É também um item preconizado como uma das metas de segurança para serem adotadas por hospitais conforme a Joint Commission, principal instituição de acreditação hospitalar dos EUA, além de um requisito da Organização Nacional de Acreditação (ONA) Hospitalar no Brasil para hospitais acreditados.

A propósito, o hospital onde ocorreu o problema tem um certificado de nível 3 da ONA, que dá um título de excelência à instituição. E é uma pena que o processo de acreditação hospitalar não elimine a possibilidade de ocorrências como essa. Conclusão: não basta conseguir um selo de qualidade. Como o hospital sustenta seu processo com qualidade é a grande pergunta, e a maior necessidade para que o paciente possa ter confiança.

Excelência fora do País

Na Universidade de Michigan, por exemplo, e em muitos locais com programas de qualidade e segurança do paciente (incluindo hospitais no Brasil), a identificação do recém-nascido começa na sala de parto. Coloca-se um dispositivo para identificação, normalmente uma pulseira, que tenha informações legíveis, que fique firmemente presa ao corpo do bebê e que tenha as seguintes informações: nome do bebê (ou a notação: RN de Fulana), sexo do bebê, data de nascimento da criança, e um número de registro (sendo ideal que seja acompanhado de código de barras para que checagens possam ser feitas com leitura deste). Não se orienta colocar o número do quarto na pulseira, pois essa informação não tem relevância clínica, e pode gerar problemas (mudanças de quarto não são impossíveis durante a internação).

Devem ser colocadas pulseiras no bebê pelo menos em um punho e um tornozelo para haver redundância de informação (e evitar perda de informação caso seja necessário cortar uma das pulseiras). Deve ser dada uma pulseira com as mesmas informações para a mãe, e para outro adulto acompanhante, normalmente o pai ou outro familiar. As informações das pulseiras do bebê devem ser checadas neste momento pela mãe ou pelo acompanhante para garantir que estejam corretas. Só depois das confirmações é que as pulseiras são colocadas e, então, mãe e bebê podem ser “separados” um do outro por qualquer rotina que seja.

As pulseiras devem permanecer até a alta, sendo feitas checagem periódicas da informação (sugerem-se a cada oito horas). Se for necessária uma troca, esta deve ser feita na frente da mãe, com uma nova rodada de checagens de informação. O bebê (de preferência) deve estar sempre na presença da mãe ou do acompanhante identificado com a pulseira. Na alta, é feita uma checagem das pulseiras na saída do hospital (se possível, na portaria, antes de colocar o pé para fora), que é quando as pulseiras são liberadas.

Incidentes com troca de informação de bebês recém-nascidos são de altíssimo risco.  Mas não vamos querer achar um culpado (ou culpados) em qualquer situação, independente dela estar nos noticiários. O que é necessário é entender as circunstâncias que permitem que episódios como este da maternidade de São Paulo ocorram. E criar soluções.  Só assim poderemos evitar situações tristes na assistência em saúde de maternidades: tomando iniciativas efetivas em prevenção.

 

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