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Câncer do reto: radioterapia tem boas evidências no tratamento pré-cirúrgico? 

Câncer do reto: radioterapia tem boas evidências no tratamento pré-cirúrgico? 
Câncer do reto: radioterapia tem boas evidências no tratamento pré-cirúrgico?
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Novo estudo faz comparativo entre a quimiorradiotarapia e o Folfox 

No Brasil, o tratamento padrão para o câncer do reto listado na Portaria nº 958/2014 (1) é composto por ressecção cirúrgica e por quimiorradioterapia antes da cirurgia em pacientes com doença classificada como T3/T4 e N1 ou após o procedimento para casos de doença em estágio II ou III. Essa mesma diretriz vem sendo adotada em território norte-americano. Porém, publicação (2) recente do New England Journal of Medicine mostra que as evidências de que essa abordagem seja de fato eficiente são fracas.  

Na ocasião, os pesquisadores realizaram um estudo multicêntrico randomizado comparando Folfox (quimioterapia neoadjuvante com fluorouracil e oxaliplatina) e quimiorradioterapia (radiação mais quimioterapia sensibilizante com fluoropirimidina) em 1.128 pacientes adultos com câncer do reto classificados como T2 positivo, T3 negativo ou T3 positivo candidatos à cirurgia de preservação do esfíncter. O foco estava em analisar a sobrevida livre de doença. 

Após 58 meses de acompanhamento, não houve diferença significativa entre os dois grupos, sendo que a sobrevida livre de doença em cinco anos foi de 80,8% no grupo Folfox e de 78,6% no grupo da quimiorradioterapia. Com isso, observa-se que esses pacientes podem ser poupados da radiação sem prejuízo aos resultados do tratamento. 

Outra publicação (3), dessa vez do Journal of Clinical Oncology, trouxe os relatos dos pacientes que participaram do estudo que comparou o Folfox à quimiorradioterapia. Entre os pontos sugeridos estão:

Durante o tratamento 

  • taxas menores de diarreia e melhor função intestinal geral no grupo que não passou pela radioterapia; 
  • taxas menores de ansiedade, perda de apetite, constipação, depressão, disfagia, dispneia, edema, fadiga, mucosite, náusea, neuropatia e vômito nos pacientes que passaram pela quimiorradioterapia. 

Doze meses após a cirurgia 

  • taxas menores de fadiga e neuropatia, melhor função sexual no grupo Folfox do que no grupo da quimiorradioterapia. 

O portal Medscape (4) conversou com especialistas sobre essas publicações. À matéria, publicada em 4 de junho, Deborah Schrag, oncologista gastrointestinal do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, declarou que a opção de evitar a radioterapia é importante por dois motivos: preservar a fertilidade em pacientes jovens e facilitar o tratamento em locais onde a radioterapia tem baixa acessibilidade. 

Ambos os pontos merecem atenção. De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), o câncer colorretal atinge cerca de 50 mil pessoas por ano no Brasil, sendo o terceiro tipo mais comum da doença no país. Pesquisa recente mostrou que antigamente a doença atingia especialmente os idosos, mas agora se tornado mais comum entre os jovens. Com base em dados da rede Dasa de diagnóstico, o portal Oncoguia (5) mostra que os casos da doença em pessoas com menos de 50 anos aumentaram 8% ao ano entre 2018 e 2022. 

Em paralelo, um documento da SBRT (Sociedade Brasileira de Radioterapia) realizado em parceria com a Fundação Dom Cabral mostra que, em média, 73 mil pacientes com câncer não conseguem fazer radioterapia no SUS todos os anos. Em um país onde menos de 25% da população têm acesso à rede privada de atendimento à saúde, reconhecer que há vazios assistenciais nos quatro cantos do território e encontrar maneiras para driblar esses desafios é fundamental. 

Referências

(1) Portaria nº 958/2014 – Aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas do câncer de cólon e reto 

(2) Preoperative Treatment of Locally Advanced Rectal Cancer 

(3) Patient-Reported Outcomes During and After Treatment for Locally Advanced Rectal Cancer in the PROSPECT Trial (Alliance N1048) 

(4) Omitting Radiation in Rectal Cancer: ‘Less Is More’ 

(5) Câncer de intestino cresce 8% ao ano entre jovens, diz laboratório; entenda 

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