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“Chip da beleza”: busca por corpo perfeito e performance coloca a segurança em risco

“Chip da beleza”: busca por corpo perfeito e performance coloca a segurança em risco
"Chip da beleza": busca por corpo perfeito e performance coloca a segurança em risco
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Implante de gestrinona e outros hormônios combinados não tem evidência de eficácia, de segurança e gera diversos efeitos colaterais 

Hoje em dia, a segurança do paciente também pode ser ameaçada por meio de informações sem controle disseminadas abundantemente nas redes sociais. É o caso do “chip da beleza”, implante hormonal muito indicado por influenciadoras digitais como estratégia para emagrecer, aumentar a massa muscular, melhorar os sintomas da TPM e a libido.

O grande problema é que esse chip, que é aplicado de forma subcutânea, não é aprovado pela Anvisa justamente por não ter estudos científicos que comprovem sua segurança e eficácia. 

Normalmente composto por gestrinona, um hormônio esteroide progestágeno sintético que não deve ser considerado como contraceptivo, tem ação semelhante à testosterona, desencadeia atividade androgênica e é classificado pela World Anti-Doping Agency (WADA) como substância anabolizante proibida, esse implante não parte de um processo totalmente industrializado.

É um medicamento manipulado e que, justamente por isso, pode envolver outras tantas substâncias (a exemplo de estradiol, oxandrolona, metformina e ocitocina), além de não vir acompanhado por bula e informações importantes de farmacocinética. 

Infelizmente, a busca pelo corpo ideal tem levado muitas mulheres a se submeterem à implantação do “chip da beleza”, mas as sociedades médicas recriminam essa atividade, facilmente encontrada em uma busca no Google a preços que variam de R$ 4 mil a R$ 6 mil. 

Atentos a esse cenário que coloca a segurança das pacientes em risco, essas sociedades médicas têm se posicionado nos últimos anos. Em 2021, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) divulgou um posicionamento (1) sobre o uso e o abuso dos implantes de gestrinona no Brasil.

O documento pedia que a gestrinona fosse incluída na Lista C5 de anabolizantes (2) da Anvisa, fazendo com que o medicamento fosse sujeito ao controle especial no Brasil. Além dessa conquista, a declaração levou a Anvisa a proibir a publicidade desses implantes. 

Em abril de 2023, a Resolução CFM nº 2.333/23 (3) vetou a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, para ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo.

Porém, o “chip da beleza”, que se enquadraria exatamente nessa resolução, segue sendo encontrado facilmente no mercado, tanto que, recentemente, a mídia divulgou o caso de uma jovem brasileira que foi internada em estado grave em um hospital de São Paulo (SP) por desenvolver um edema cerebral 24 horas após a inserção de um implante hormonal com uma combinação de gestrinona, testosterona, ciproterona e ocitocina (4). 

Já em dezembro de 2023, sete sociedades médicas realizaram um novo pedido público (5) à Anvisa para providências também quanto ao uso indiscriminado de implantes hormonais. O documento diz que a gestrinona é um medicamento já abandonado pela medicina baseada em evidências e que, portanto, não existe dose segura para fins estéticos ou de performance. 

Entre os efeitos colaterais listados na carta estão casos de infarto agudo do miocárdio, de tromboembolismo e de acidente vascular cerebral que se tornaram frequentes, bem como complicações cutâneas, hepáticas, renais, musculares, infecções, e manifestações psicológicas e psiquiátricas como ansiedade, agressividade, dependência, e depressão.

Nas mulheres, também há relatos de desenvolvimento de acne, hirsutismo, queda de cabelo, aumento do clitóris, engrossamento da voz (irreversível), irregularidade menstrual, infertilidade e má formação fetal. 

Importante destacar que o “chip da beleza” é diferente do Implanon, único implante hormonal liberado no Brasil, distribuído inclusive como estratégia contraceptiva pelo SUS, e que libera um hormônio derivado da progesterona, o etonogestrel. 

Referências: 

(1) Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre 

o uso (e abuso) de implantes de gestrinona no Brasil. 

(2) Lista de substâncias sujeitas a controle especial no Brasil 

(3) Nova Resolução CFM veta terapias hormonais para fins estéticos e de desempenho esportivo 

(4) Jovem é internada após implante de ‘chip da beleza’ com ocitocina; entenda riscos 

(5) Carta das Sociedades Médicas à ANVISA – Pedido público de providências quanto ao uso indiscriminado de implantes hormonais no Brasil 

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