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Como um hospital aumentou a higienização das mãos usando uma tática militar

Como um hospital aumentou a higienização das mãos usando uma tática militar
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Higienização das mãos: responsabilização individual se mostrou tática eficaz para aumentar adesão (Bigstock)
Higienização das mãos: responsabilização individual se mostrou tática eficaz para aumentar adesão (Bigstock)

A importância da correta higienização das mãos para a prevenção de infecções relacionadas à assistência a saúde (Iras) não é novidade. Ainda assim, os hospitais sofrem para aumentar a adesão de suas equipes. A higienização costuma ser realizada entre 30% a 70% das vezes em que há uma oportunidade. A situação não era diferente no Hospital Infantil Nationwide, considerado um dos melhores hospitais pediátricos dos Estados Unidos. Localizado na cidade de Columbus, no Estado de Ohio, o hospital tem cerca de 1.300 funcionários. A adesão à higienização das mãos era satisfatória, segundo relatórios dos gerentes das equipes e pesquisas realizadas entre os funcionários. Mas, quando a administração lançou mão de uma observação secreta, flagrou a higienização das mãos em apenas 50% das oportunidades. Foi nesse momento em que o hospital resolveu adotar uma estratégia polêmica para aumentar de maneira rápida e efetiva a adesão.

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O hospital decretou para todas as equipes um stand-down, algo como a suspensão das atividades, uma prática retirada do repertório de táticas militares. Em um dia escolhido, todas os funcionários foram obrigados a parar ao mesmo tempo suas atividades por 15 minutos. Deveriam discutir um plano de ação para suas áreas com o objetivo de aumentar a higienização das mãos. A paralisação foi feita uma vez no turno da manhã e uma vez no turno da noite. Apenas atividades emergenciais poderiam ocorrer. Essa parada estratégia é adotada por forças militares, durante ações ofensivas, para que a liderança possa discutir  novas estratégias com a linha de frente.

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Quatro dias antes do “cessar-fogo”, foi feita uma reunião com os líderes de todas as equipes, para repassar a importância da higienização das mãos e pedir a elaboração de um plano para suas áreas, a ser discutido com as equipes durante o cessar-fogo. O objetivo foi deixado muito claro: a ideia não era apenas aumentar a adesão, mas alcançar a higienização em 100% das oportunidades – uma meta ambiciosa.

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Além da reunião e da paralisação, a administração reforçou a disponibilidade de dispensers de soluções de limpeza para as mãos em todos os quartos e corredores, melhorando a localização. Uma nova política de responsabilização também foi adotada: as equipes foram informadas de que adesão menor que 90% exigiria reuniões com a diretoria. Funcionários reincidentes teriam o problema de comportamento anotado em seus registros profissionais permanentemente. Nos dois meses seguintes ao dia do “cessar-fogo”, as observações ocultas foram intensificadas. Cerca de 2.000 oportunidades foram observadas por avaliadores à paisana. Nos meses que se seguiram, a estratégia persistiu, mas a intensidade foi reduzida: as observações caíram para 400 por mês.

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Os resultados da iniciativa militar, divulgados na publicação científica Journal of Patient Safety, mais de 3 após o projeto, são animadores. Segundo os autores do estudo, a adesão passou dos 50% pré-“cessar-fogo” para 90% no pós-“cessar-fogo”, índice que se sustentou durante esses 3 anos (1).

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Apesar de o método parecer um tanto autoritário, com a ameaça de registro de mau comportamento no arquivo pessoal dos funcionários, os autores garantem que a medida nem chegou a ser necessária. Nenhum funcionário precisou de duas reuniões com a diretoria, um indício de que tornar a higienização das mãos uma responsabilidade individual de cada profissional é uma estratégia eficaz para aumentar a adesão.

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Contrariamente o que se poderia imaginar, a iniciativa não tornou a alta liderança impopular entre os funcionários. De acordo com opiniões ouvidas pelos corredores do hospital, essas reuniões foram interpretadas pelos profissionais como um sinal de que a diretoria estava, de fato, comprometida em melhorar a segurança e a qualidade da assistência.

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Para os autores do artigo científico que descreveu a experiência, o segredo do sucesso foi mostrar que o projeto era uma prioridade do hospital, mensagem passada pela paralisação das atividades no dia do “cessar-fogo”. “Esse programa pode ser ser facilmente implementado, a um baixo custo e é relativamente pouco punitivo”, escreveram os autores.

Saiba mais
(1) Cunningham, D., Brilli, R. J., McClead, R. E., & Davis, J. T. (2018). The Safety Stand-down. Journal of Patient Safety. 14(2):107–111, JUN 2018

 

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