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Dez por cento dos pacientes deve sofrer evento adverso em internação

Dez por cento dos pacientes deve sofrer evento adverso em internação
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Eventos Adversos em Internações

As estatísticas sobre eventos adversos em hospitais e fatores de risco são alarmantes, segundo Lucas Zambon, diretor e fundador do IBSP – Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, supervisor da disciplina de Emergências Clínicas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina FMUSP e assessor de práticas assistenciais da superintendência médica do Hospital Samaritano, de São Paulo.  A seguir, em entrevista exclusiva, o médico pontua os números, traçando um panorama do Brasil.

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IBSP – Qual a taxa de morte por eventos adversos que poderiam ser evitados em hospitais no mundo? Quais são os principais eventos?
Lucas Zambon – Em média, um a cada dez pacientes internados em hospitais vai sofrer um evento adverso. Uma parte destes eventos vai resultar na morte de pacientes. E o que se estima hoje é que cerca de 70% destes eventos (e mortes, consequentemente) seriam evitáveis. Boa parte dessas mortes pode ser atribuída a problemas em cirurgias, infecções hospitalares e erros relacionados a medicamentos, que são os grupos de eventos adversos mais comuns.

 

IBSP – Como é esse quadro no Brasil? As estatísticas têm mudado ao longo dos anos? Por quê?
Lucas Zambon – Uma estimativa aplicada ao Brasil sugere que ocorram mais de 220 mil mortes decorrentes de eventos adversos evitáveis por ano nos hospitais. Infelizmente, não temos dados consistentes sobre essas estatísticas ao longo dos anos para o Brasil. O que podemos inferir, com base em estudos nos EUA, é que os números têm piorado com o tempo. Parte disso é porque a detecção destes eventos adversos vem melhorando, mas parte é pelo aumento da complexidade da assistência em hospitais, que cada vez mais incorporam novas tecnologias e novos procedimentos para prestar assistência, criando também novos riscos.

 

IBSP – Há hospitais brasileiros com excelência em segurança do paciente? Quantos por cento do total?
Lucas Zambon – Dizer que um hospital tem excelência em segurança do paciente é muito difícil hoje, em qualquer lugar do mundo. O que temos são hospitais que têm buscado melhorar suas práticas e promover uma assistência de mais qualidade e mais segura. Se usarmos como parâmetro apenas um item, que é a acreditação hospitalar, os dados mais recentes apontam que menos de 5% dos hospitais do Brasil tem um selo de acreditação (dos quase 7 mil hospitais públicos e privados). É muito pouco, e ainda assim a acreditação não garante completamente que exista uma excelência em segurança do paciente.

 

IBSP – Há uma estimativa de alteração no lucro de hospitais que adotam políticas de segurança do paciente?
Lucas Zambon – Essa é uma pergunta interessante. Muitos hospitais não entendem que melhorar a qualidade da assistência e promover a segurança do paciente é um investimento. Encara-se isso como despesa, como se garantir o melhor cuidado ao paciente não fosse o cerne do papel da instituição. E a verdade é que o investimento para muitas práticas de qualidade é muito baixo (como por exemplo, adotar um checklist em um pedaço de papel para evitar esquecer etapas críticas em uma cirurgia). E o melhor exemplo de que políticas de segurança do paciente não prejudicam o lucro dos hospitais vem dos maiores hospitais privados do país. Todos adotam políticas de segurança e não é por isso que suas finanças foram prejudicadas.

 

IBSP – Quais os principais fatores de risco dos pacientes para ocorrência de um evento adverso em um atendimento médico?
Lucas Zambon – Hoje sabemos que a ocorrência de um evento adverso está diretamente relacionada a dois fatores. O primeiro é a complexidade do caso. Quanto mais doenças, ou mais grave é o caso, maior a chance de erros. A outra coisa é a “exposição” à assistência médica. Quanto mais tempo o paciente fica internado em um hospital, ou mais procedimentos o paciente fizer, também aumenta a chance de algo sair errado, com diversas consequências, incluindo a morte.

 

IBSP – Todos os pacientes são expostos a fatores de risco para eventos adversos ao entrar em um hospital? Por quê?
Lucas Zambon – Todo paciente está em risco para eventos adversos dentro de um hospital. Obviamente o risco é variável. Por exemplo, uma cirurgia para realizar um transplante é muito mais complexa e cheia de riscos do que uma cirurgia para correção de varizes. Uma prescrição com dez itens para controlar mais de uma doença oferece mais riscos que uma prescrição de um simples analgésico. Ainda assim, o paciente com uma cirurgia ou uma prescrição mais simples está em risco para erros e eventos adversos. É só uma questão de probabilidades diferentes.

 

IBSP – Para os profissionais de saúde, quais as principais vantagens de ter um sistema estruturado para minimizar os riscos de eventos adversos?
Lucas Zambon – É algo essencial para minimizar erros, e, consequentemente, eventos adversos. A base disso são rotinas padronizadas, protocolos e checklists, além de muito treinamento para aplicar cada uma dessas ferramentas. Temos essa percepção com base em outras áreas de atividade humana, como a indústria da aviação, onde checklists e protocolos evitam erros na decolagem e no pouso de aviões, minimizando eventos graves.

 

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