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Fora do Brasil, segurança do paciente é prioridade

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Segurança do Paciente no Cenário Mundial

 

Depois do primeiro relatório de peso sobre sobre segurança do paciente, em 1999, a segurança hospitalar passou a ser vista por uma ótica mais abrangente e com sugestões de métodos mais eficientes. De lá para cá, alguns hospitais passaram a adotar medidas para minimizar os riscos de eventos adversos e derrubar os índices de mortes por essas causas.

O Dr. José Ribamar Branco, membro da Comissão de Gerenciamento de Risco do HSC Santana e do Programa Brasileiro de Segurança do Paciente IQG/IHI, explica como está a discussão sobre o assunto no Brasil e internacionalmente e cita exemplos de instituições que colocaram a segurança do paciente como prioridade e melhoraram a qualidade do atendimento e os lucros.

 

IBSP – Os preceitos de segurança do paciente são amplamente discutidos na maioria dos hospitais pelo mundo?

José Branco – Não, o movimento para segurança do paciente ainda é uma questão pouco discutida e os eventos adversos (incidente com dano) não são investigados, relatados e nem analisados na maioria das instituições de saúde. Temos muita dificuldade em reconhecermos que nós falhamos, em aprender com os erros e em sermos transparente com o paciente e seus familiares quando acontece um incidente com dano grave. E, em geral, ainda punimos os profissionais envolvidos. Em geral, os incidentes ocorrem por falhas sistêmicas, não por falha individual.

 

IBSP – Quando o assunto começou a ganhar notoriedade?

José Branco – Milhões de pacientes sofrem incidentes com dano grave evitáveis nos EUA e ao redor do mundo quando eles recebem cuidados de saúde. Os primeiros estudos na área culminaram, em 1999, com a publicação do relatório “Errar é Humano: Construindo um sistema de saúde mais seguro” relatavam 98 mil óbitos por ano por eventos adversos preveníveis nos EUA. Desde então, a pressão para aumentar a segurança do paciente tem crescido continuamente em todo o mundo.  Em 2008, outros estudos identificaram 180 mil mortes por ano. Com o desenvolvimento de uma metodologia de identificação de eventos adversos – chamada trigger tool –  mais eficiente para identificação de eventos adversos, os trabalhos relataram 210 mil óbitos preveníveis em 2011. Atualmente estima-se em torno 420 mil mortes por ano devido a danos evitáveis só nos EUA.

 

IBSP – No Brasil, a segurança do paciente é uma área bem desenvolvida nos ambientes hospitalares?

José Branco – No Brasil a preocupação com a segurança do paciente é recente, os hospitais que têm certificação nacional e internacional vem trabalhando a segurança do paciente . A maioria das instituições começou a trabalhar a questão após a publicação da portaria 529, de 1 de abril de 2013, que institui a Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), obrigando todos os hospitais públicos e privados a criar o núcleo de segurança do paciente, cujo objetivo é prevenir e reduzir a incidência de eventos adversos relacionados à assistência nos serviços de saúde.

 

IBSP – Qual país é referência no assunto? E como chegou a esse patamar?

José Branco – Alguns países são referências e têm implantados práticas de segurança como política nacional, entre eles temos Canadá, Austrália, Inglaterra e a Escócia. Mais mesmos nestes países ainda há muitas coisas a fazer, principalmente criar uma cultura de segurança, modificar o comportamento dos profissionais de saúde, não punir, criar uma Agência Nacional para Segurança do Paciente, semelhante a aviação, que irá investigar os incidentes que ocorrem no sistema de saúde seja dentro dos hospitais ou a nível de atenção primária.

Os países que têm uma população menor e um setor público como grande financiador da saúde, como Austrália, Canada e Escócia, instituíram políticas públicas  de segurança do paciente, avaliando as instituições através de indicadores, metas alcançadas, resultados das instituições de saúde.

 

IBSP – Há relatos sobre as principais dificuldades que os países mais desenvolvidos no assunto tiveram para implementar essas medidas? Quais foram?

José Branco – Nos últimos 15 anos, em países desenvolvidos, tiveram grandes avanços na implantação de práticas de segurança em algumas áreas, não em todas, e houve grandes progressos na diminuição das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), mas não o suficiente. Atualmente novas metas para infecções relacionadas à assistência à saúde, para taxas de readmissões hospitalares em menos de 30 dias, para comportamento não profissional, erro de diagnóstico e outros foram adicionados dentro das políticas de segurança do paciente. Mas em muitos hospitais dos países desenvolvidos o movimento para segurança do paciente ainda não chegou ou pelos menos não tem sido eficaz.

Em outros hospitais a segurança do paciente é top nas prioridades. Nessas instituições conseguimos identificar o trabalho em equipe multidisciplinar para reduzir a incidência de IRAS, a criação de pontos de checagem em momentos estratégicos para prevenir erros e a criação de políticas que assegurem a linha de comunicação entre staff do hospital, pacientes e familiares.

A principal dificuldade é a mudança de cultura dos profissionais de saúde e criar cultura justa com responsabilidade e sem punição. A falta de liderança é também um dos grandes entraves Deve ocorrer uma mudança capaz de assegurar que a segurança do paciente seja a prioridade número um da alta gestão e/ou do CEO.

 

IBSP – Quais os principais ganhos dos hospitais que adotam políticas rigorosas de segurança do paciente?

José Branco – A maioria das instituições coloca a sustentabilidade como o principal objetivo do seu planejamento estratégico, com foco no financeiro e concentração no mercado, com pouco ou nenhum olhar na qualidade e segurança. Não há dúvida de que as instituições que investem em melhoria da qualidade e segurança do paciente têm melhores resultado, tanto do ponto de vista financeiro como clínico, com uma melhor sustentabilidade ao longo do tempo. Nos EUA, temos exemplos de hospitais com a melhor performance em segurança e qualidade e excelentes resultados financeiros, como o Hospital Johns Hopkins, a Mayo Clinic e o Hospital Virginia Mason.

 

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