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Impactos físicos e psicológicos da lesão por pressão em pacientes e cuidadores

Impactos físicos e psicológicos da lesão por pressão em pacientes e cuidadores
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A incidência de lesões por pressão varia em muitos aspectos. No Brasil, corresponde ao terceiro tipo de evento mais frequentemente notificado pelos Núcleos de Segurança do Paciente dos hospitais nacionais (1). Prevenir é, claro, o melhor caminho para minimizar os impactos negativos, mas mesmo com o alto investimento em prevenção, lesões por pressão ainda podem acometer pacientes em diferentes condições.

Para melhor compreender esse cenário, uma revisão sistemática (2) publicada em junho deste ano buscou analisar as percepções de pacientes e cuidadores. Ao avaliar 13 artigos publicados principalmente na Espanha, apontou três vertentes principais acerca das experiências de quem convive de perto com esse acometimento.

1 – Perda de autonomia e independência

Quem sofre com lesão por pressão acaba precisando de cuidado e assistência contínuos. A falta de autonomia para suprir algumas de suas necessidades básicas gera descontentamento e desânimo. Para melhorar esse cenário, uma das alternativas identificadas nos artigos da revisão está justamente no maior envolvimento do paciente com sua rotina de cuidados – principalmente preventivos – que pode impulsionar a motivação.

Essa falta de motivação e de independência podem desencadear um isolamento social desses pacientes que acabam fugindo de compromissos coletivos usando, como justificativa, motivos diversos que vão desde a aparência de suas vestimentas adaptadas que não se enquadram mais no padrão da sociedade (chamando a atenção) até a necessidade de apoio para ir e vir.

Tema 2 – Efeitos psicológicos

Lesões por pressão geram efeitos físicos, mas também são gatilhos para questões psicológicas. Entre os sentimentos negativos descritos na revisão estão ansiedade, infelicidade, tristeza, desespero, desânimo, falta de esperança, desamparo, frustração, raiva, depressão, sensação de abandono e de injustiça.

Muitos desses sentimentos são desencadeados pelo tempo que as lesões levam para cicatrizar e pela dor, que pode ser extremamente aguda. Além disso, o surgimento de uma nova lesão que poderia ser evitada gera culpa.

Outro fator apontado diz respeito à sensação de perda. Além da perda da independência e autonomia, como relatado no tema anterior, há a perda de privacidade, de dignidade e de autoconfiança devido à mudança de aspecto e aparência da pele.

Cuidadores também sofrem impactos psicológicos – principalmente quando são membros da família – devido à imposição gerada pela responsabilidade do cuidado.

Tema 3 – Adaptação

Lesões por pressão levam à necessidade de ajustes na rotina. Realizar atividades simples e cotidianas – como, por exemplo, preparar as próprias refeições e cuidar dos afazeres da casa – tornam-se desafiadoras. Pessoas que eram extremamente ativas, podem se tornar sedentárias.

Para minimizar esse impacto negativo, algumas alterações funcionais podem ser interessantes. É o caso, por exemplo, da substituição da cama comum por uma cama hospitalar.

Porém, ainda assim, há desafios a serem vencidos. Primeiramente é importante enfatizar que essas mudanças de infraestrutura geram custos que, nem sempre, cabem no orçamento dos pacientes. Até mesmo aqueles dispositivos para o tratamento podem ser inacessíveis financeiramente. Outro ponto diz respeito à percepção (e aceitação) do paciente. A troca da cama, citada como exemplo, pode ser motivo de desânimo por remeter constantemente à fragilidade e ao ambiente hospitalar.

A revisão também enfatiza a questão da dor, que pode ser extremamente debilitante. No cuidado domiciliar, essa dor tende a ser mais forte e presente nos períodos noturnos, justamente quando o paciente está sozinho e sem o acesso direto aos seus cuidadores.

Essa relação entre paciente e cuidador – quando prestador de serviço –, inclusive, merece atenção. Em primeiro lugar, quanto maior a rotatividade, menor o grau de satisfação do paciente. A intimidade e a troca que se constroem com o passar do tempo são sempre benéficas. Em segundo lugar, a boa relação entre todos os envolvidos na rotina de assistência depende de uma comunicação clara e eficaz. Quando surge a necessidade de hospitalização, ainda é preciso dedicar atenção redobrada para que tanto paciente quanto cuidador sejam envolvidos nas decisões e tratamento. Afastar esse cuidador assim que o paciente é hospitalizado, mina a confiança do profissional e também afeta a tranquilidade do paciente.

Melhor estratégia para ação

Além de investir em ações para prevenir as lesões por pressão em si, é preciso trabalhar o psicológico do paciente de forma igualmente preventiva. Pacientes resilientes, com conhecimento sobre suas condições clínicas e sobre lesões por pressão, tendem a responder muito melhor aos tratamentos.

Para isso, os profissionais envolvidos no cuidado tanto no ambiente hospitalar quanto no domiciliar precisam estar constantemente atualizados sobre as principais diretrizes, além de psicologicamente saudáveis e atentos para identificação de fatores de risco.

Referências:

(1) Prevalência e incidência de lesão por pressão em pacientes internados em unidades de clínica médica

(2) Patient and carer experience of living with a pressure injury: A meta-synthesis of qualitative studies

 

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