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Intervenções desnecessárias geram eventos adversos em até 15% dos pacientes

Intervenções desnecessárias geram eventos adversos em até 15% dos pacientes
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Paciente em leito hospitalar: eventos adversos em virtude de tratamentos desnecessários dobram dias de internação, diz estudo australiano (Bigstock)
Paciente em leito hospitalar: eventos adversos em virtude de tratamentos desnecessários dobram dias de internação, diz estudo australiano (Bigstock)

Um grupo de pesquisadores australianos calculou os efeitos na vida real de procedimentos médicos realizados a despeito do que ditam as melhores evidências científicas. Intervenções desnecessárias – exames e cirurgias que não resolvem o problema ou não melhoram a qualidade de vida a longo prazo – trazem consigo o risco de eventos adversos, como infecções, lesão por pressão, tromboembolismo venoso (TEV), delirium… Além de possíveis complicações para os pacientes, o excesso de cuidado gera gastos evitáveis que contribuem para o aumento do custo dos sistemas de saúde.

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O novo estudo mostra que os eventos adversos que ocorreram em função de intervenções desnecessárias pelo menos dobraram os dias de internação de pacientes que, a rigor, nem deveriam estar hospitalizados.Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram os registros médicos dos 225 hospitais públicos do estado de New South Wales, na Austrália, por um período de três anos (1). Escolheram sete procedimentos para mapear a incidência com que eram realizados contrariamente ao que ditavam as diretrizes médicas selecionadas por eles e, portanto, poderiam ser considerados desnecessários.

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As condições analisadas foram:

* Reparo endovascular de aneurisma de aorta abdominal (EVAR)
Desnecessário quando – paciente tem uma doença sistêmica que causa risco de morte constante ou com mais de 75 anos e doença sistêmica grave
Recomendação para esses casos – não intervir

* Angioplastia de artéria renal
Desnecessária quando – existe diagnóstico de hipertensão renovascular, de aterosclerose em artéria renal, de doença renal hipertensiva ou de doença renal e cardíaca hipertensiva e sem diagnóstico de displasia fibromuscular e edema pulmonar
Recomendação para esses casos – tratamento clínico multifatorial

* Endarterectomia de carótida
Desnecessária quando paciente sem sintomas e com doença sistêmica  que causa risco de morte constante ou com mais de 75 anos e doença sistêmica grave
Recomendação para esses casos – melhor tratamento clínico possível

* Fusão espinhal lombar
Desnecessária quando – não há dor ciática relatada, deslocamento de vértebras ou anormalidades na coluna, e sem dor nas pernas nos últimos 12 meses
Recomendação para esses casos – tratamento conservador

* Artroscopia de joelho
Desnecessária quando – o caso é de desgaste em pacientes com mais de 55 anos, sem sinais de trauma
Recomendação para esses casos – Perda de peso, fisioterapia e medicação para alívio dos sintomas

* Colonoscopia por constipação
Desnecessária quando – paciente tem menos de 75 anos, sem diagnóstico de anemia, perda de peso ou histórico familiar que sugira câncer ou histórico pessoal de doença digestiva nos últimos 12 meses
Recomendação para esses casos – investigação não é recomendada na ausência de sintomas alarmantes

* Endoscopia por dispepsia
Desnecessária quando – é motivada por queixas gástricas indefinidas para pacientes com menos de 55 anos, sem diagnóstico de anemia ou perda anormal de peso, histórico familiar ou pessoal de úlcera
Recomendação para esses casos – testar para Helicobacter pylori

Os pesquisadores encontraram 9.330 intervenções realizadas em circunstâncias contrárias às recomendações de melhores práticas usadas por eles como referenciais. Elas deram origem a 315 eventos adversos. A intervenção que registrou, relativamente, o maior número de complicações foi o reparo endovascular de aneurisma de aorta abdominal. Das 508 vezes em que foi feita desnecessariamente, 15% resultaram em eventos adversos, principalmente em complicações cardíacas. No geral, o tipo mais frequente de evento adverso foi infecção, que correspondeu a 26,3% das condições adquiridas em decorrência do tratamento.

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“Intervenções desnecessárias são motivadas, em parte, pela tendência de os médicos agirem a despeito do risco e pela tendência de superestimar os benefícios e subestimar os perigos”, escreveram os autores no artigo publicado ontem, em um dos periódicos da Associação Médica Americana, o JAMA Internal Medicine. As diretrizes, baseadas em evidências científicas, podem ajudar profissionais e pacientes a equilibrar essa equação, levando sempre em consideração os valores e objetivos do paciente.

Os riscos do excesso de cuidado

Procedimento* Casos com
eventos adversos
Dias a mais de internação por paciente
Reparo endovascular de aneurisma de aorta abdominal 15% 7,9
Angioplastia de artéria renal 8,5% 21,5
Endarterectomia de carótida 7,7% 12,1
Fusão espinhal lombar 7,1% 29,8
Artroscopia de joelho 0,5% 13,8
Colonoscopia por constipação 0,3% 14,3
Endoscopia por dispepsia 0,1% 7,9

(* desnecessário para os casos analisados, segundo diretrizes científicas)

 

SAIBA MAIS

(1) Badgery-Parker T, Pearson S, Dunn S, Elshaug AG. Measuring Hospital-Acquired Complications Associated With Low-Value Care. JAMA Intern Med. Published online February 25, 2019. doi:10.1001/jamainternmed.2018.7464

 

eventos adversos

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