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SBAR – Adoção da ferramenta impacta positivamente a segurança do paciente?

SBAR – Adoção da ferramenta impacta positivamente a segurança do paciente?
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Revisão sistemática encontra estudos com qualidade limitada e questiona real eficácia do método nos ambientes de saúde

De acordo com a Joint Commission International, problemas de comunicação contribuíram para mais de 60% de todos os eventos adversos por eles analisados. Ferramenta bastante conhecida – e utilizada – no auxílio à troca de informações entre as equipes de cuidado, a SBAR pode impactar positivamente a segurança do paciente? Uma revisão sistemática (1) resumiu as evidências disponíveis, fez essa avaliação, e trouxe um questionamento importante.

O que é a SBAR?

Em primeiro lugar, é importante entender o que é e como funciona a SBAR. Considerada uma das ferramentas mais estruturadas para a comunicação dentro dos ambientes de saúde justamente por ser simples, visa orientar a melhor troca de informações entre as equipes a fim de reduzir erros e omissões, principalmente na transição do cuidado. Para isso, exige a transmissão de dados organizados de maneira lógica.

O instrumento, recomendado pela Joint Commission International, é um mnemônico para Situação, Breve Histórico, Avaliação e Recomendação. Com isso, possibilita um relato preciso sobre a condição clínica do paciente, seu histórico e hipóteses diagnósticas, o detalhamento do caso com dados reais para a tomada de decisão, e recomendações quanto às suas necessidades (2).

SBAR x Segurança do Paciente

Todos os estudos incluídos na revisão sistemática tinham, como objetivo, avaliar a utilização da SBAR nos desfechos dos pacientes internados. Foram observados 11 estudos, sendo que oito deles faziam avaliações antes e depois da implementação da SBAR e três eram ensaios controlados.

Essas pesquisas ocorreram em lares de idosos, centros de reabilitação e hospitais gerais. Com isso, ao todo, foram avaliados 26 diferentes resultados:

  • 8 deles apresentaram melhoria significativa
  • 6 não apontaram mudanças consideráveis
  • 11 observaram melhorias, porém sem um relatório de teste estatístico
  • 1 estudo apresentou redução descritiva na segurança do paciente

Um dos pontos principais da revisão é que os estudos incluídos tinham qualidade baixa e produziam resultados heterogêneos. Isso porque apresentavam questões limitantes como, por exemplo, ausência de dados que viabilizem a interpretação adequada das diferenças entre os grupos; ou ainda períodos curtos de avaliação.

Com isso torna-se difícil compreender se os achados estão relacionados à aplicação da ferramenta em si ou à maior conscientização das equipes. Assim, a revisão sistemática acende um alerta sobre a adoção irrefletida do SBAR que pode, de forma paradoxal, limitar as melhorias de comunicação em saúde por mascarar a resolução de um problema e sugere a necessidade de estudos mais completos para, de fato, entender a eficácia da ferramenta.

“Precisamos entender que não se trata de adotar ou abandonar o SBAR, ou eventuais outras ferramentas. O que um estudo de revisão sistemática como este nos aponta é a necessidade de criarmos evidências mais contundentes que ajudem na recomendação da adoção ou não da ferramenta, já que os dados disponíveis até então não são de boa qualidade”, diz Lucas Zambon, diretor científico do IBSP.

De acordo com o executivo, é preciso compreender que há uma série de questões para se levar em conta na hora de tecer um estudo capaz de avaliar uma ferramenta de comunicação, pois os cenários são muito diversos, o nível técnico dos profissionais também, e o processo de comunicação se insere em cenário de soft skills e relacionamento interpessoal mais amplo.

“Discutir evidências em segurança do paciente exige uma maturidade de nossa parte, pois precisamos encarar que a eficácia de ações que são implantadas precisa ser mensurada. Isso para não serem apenas atividades diferentes do habitual, que nos trazem conforto cognitivo, mas não necessariamente estão mudando os resultados pretendidos. Em suma, não é que precisemos abandonar o SBAR. Apenas precisamos lembrar de manter o pensamento crítico, e aguardar resultados de estudos futuros para guiar nossa prática”, conclui o médico.

Referências:

(1) Impact of the communication and patient hand-off tool SBAR on patient safety: a systematic review
(2) Instrumento de passagem de plantão da equipe de enfermagem – SBAR (Situation-Background-Assessment-Recommendation): validação e aplicação

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