NOTÍCIAS

Segurança do Paciente

Os incidentes são comunicados?

Os incidentes são comunicados?
5
(3)

Editorial do BMJ traz evidências e problemáticas sobre Disclosure.

O profissional de saúde é um ser humano e, justamente por isso, está sujeito a falhas que, quando ocorrem, precisam ser comunicadas a pacientes e familiares. Tanto que o Global Patient Safety Action Plan 2021 – 2030, documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estrutura as ações de segurança do paciente e traz sete objetivos estratégicos que envolvem todos os membros da assistência, enfatiza a necessidade de os sistemas estabelecerem o princípio e a prática de transparência divulgando incidentes.

Recentemente, um editorial (1) publicado por especialistas norte-americanos no British Medical Journal Quality & Safety abordou o assunto trazendo evidências que mostram como está o atual cenário mundial nesse aspecto. 

O texto menciona que ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas quando o assunto é a comunicação clara e eficiente de incidentes. Em um dos estudos mencionados, médicos e enfermeiros foram acionados a compartilhar, voluntariamente, relatórios anônimos de falhas ocorridas em dez UTIs neonatais francesas. O foco estava em divulgar o tipo do erro, sua gravidade, se os pais dos pacientes haviam sido informados, a reação deles diante da explanação e os motivos para divulgar ou não divulgar o ocorrido.

Dos 1.822 incidentes reportados, apenas 41% foram comunicados aos pais dos pacientes, porém sob uma taxa de divulgação bastante variável em que um serviço alcançou 75% enquanto outro apenas 38%. Além disso, em casos de danos leves, descobertos no turno da noite, ocorridos pouco após a admissão do paciente ou em bebês mais prematuros, os incidentes eram menos reportados.

Mesmo diante de algo inesperado, os pais se mostravam compreensivos e poucas vezes aparentavam raiva (porém, essa era a percepção dos profissionais de saúde; nesse estudo os pais não foram entrevistados para compartilhar suas próprias percepções).

Os especialistas mencionam, porém, algumas preocupações com base na análise desse estudo. A primeira delas é que a interação entre pacientes e familiares e as equipes clínicas após incidentes está suscetível às fragilidades humanas. Isso significa que seres humanos naturalmente tendem a evitar conversas difíceis, e contar que houve uma falha durante a assistência à saúde é sim uma árdua tarefa. Portanto, há uma certa naturalidade em esconder incidentes que não seriam percebidos pelos familiares.

Outro ponto descrito pelos autores do artigo diz respeito à vulnerabilidade de pacientes e familiares diante de uma falha, o que desperta, nos profissionais de saúde, o medo por um retorno de ira por parte deles.

Porém, há uma limitação no estudo descrito acima. Por se tratar de uma avaliação feita em UTIs neonatais, os pais dos pacientes submetidos a falhas sentiam certa dependência da equipe médica para que seus filhos seguissem em atendimento. Isso pode fazer com que reclamações ou respostas mais agressivas sejam evitadas pelo receio de que um desentendimento com os profissionais de saúde atrapalhe os cuidados.

A terceira observação diz respeito à importância da coleta de dados. Infelizmente, nem todos os serviços de saúde têm como saber exatamente quais incidentes foram ou não comunicados. E o que não pode ser medido, não pode ser melhorado.

Os autores listam, então, caminhos para melhorias quando o assunto é a comunicação de incidentes. O pontapé inicial pode estar na criação de um programa de resposta a danos que considere a importância do compartilhamento do incidente, mas, também, pedidos sinceros de desculpas, explicação sobre o que está sendo feito pela organização para evitar que esse mesmo tipo de incidente volte a ocorrer, e apoio integral às necessidades tanto práticas quanto emocionais e financeiras decorrentes do incidente. É, basicamente, o que prezam os documentos internacionais que reforçam que diante de eventos danosos, o foco deve estar no paciente e em seus familiares.

O Dr. Lucas Zambon, Diretor Científico do IBSP, destaca que:

O ato de disclosure precisa ser uma política da instituição. Há que se delegar quem deve fazer o disclosure conforme o tipo de circunstância sempre com uma rápida resposta, deve-se viabilizar canais de comunicação tanto para com o paciente e familiares, mas também internamente para que o ato de disclosure seja assertivo. E por último, mas não menos importante, aprendizados institucionais devem ser compartilhados e sedimentados. 

Na vitrine de cursos do IBSP há cursos de diferentes formatos abordando essa temática. O Disclosure e Gestão de Conflitos, em modelo EaD, apresenta a importância da comunicação aberta e transparente com o paciente acerca do seu cuidado e o resultado dele, permitindo, ao aluno, a compreensão sobre todo o processo do disclosure e seus benefícios, conheça.

O assunto também é abordado em uma das aulas do Programa de Qualificação Multiprofissional em Segurança do Paciente, no módulo sobre o envolvimento de pacientes e familiares no cuidado ministrado por Ícaro Boszczowski, doutor em Ciências e gerente do departamento de Controle de Infecção do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, confira.

Referência:

(1) Disclosing medical errors: prioritising the needs of patients and families

Avalie esse conteúdo

Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 3

Outros conteúdos do Acervo de Segurança do Paciente

Tudo
materiais-cientificos-icon-mini Materiais Científicos
noticias-icon Notícias
eventos-icon-2 Eventos