NOTÍCIAS

Segurança do Paciente

Segurança do paciente na atenção primária: alta prevalência de eventos adversos leves, porém evitáveis 

Segurança do paciente na atenção primária: alta prevalência de eventos adversos leves, porém evitáveis 
Segurança do paciente na atenção primária: alta prevalência de eventos adversos leves, porém evitáveis
4.4
(7)

Estudo realizado na Espanha mostra que 1 a cada 20 pacientes sofrerá ao menos um evento adverso por trimestre durante cuidados primários 

Há, na literatura, uma predominância de estudos sobre a prevalência de eventos adversos no ambiente hospitalar, porém, uma cultura de segurança do paciente forte deve considerar todos os tipos e locais de atendimento. Pensando nisso, pesquisadores da Espanha (1) fizeram um levantamento bastante amplo a fim de compreender como está a segurança na atenção primária. 

Considerando que atenção primária normalmente é o primeiro ponto de contato entre o paciente e a assistência, os achados são bastante relevantes e mostram que 1 a cada 20 pacientes sofrerá ao menos um evento adverso por trimestre ao ser submetido a cuidados primários. O mais importante a ser destacado é que em mais de 70% dos casos, esse evento pode ser evitado. 

O estudo foi conduzido na capital, Madri, e envolveu 262 centros de saúde responsáveis por atender mais de 6 milhões de pessoas. Foram revisados 1.797 prontuários eletrônicos registrados no último trimestre de 2018. Três equipes, cada uma composta por um médico e um enfermeiro, foram os responsáveis pela revisão. 

Como resultados, foi identificada uma prevalência de eventos adversos de 5% no período analisado, sendo que a maioria ocorreu em mulheres (apesar da diferença estatística não ter sido tão significativa: 5,7% contra 4%). Outro apontamento relevante é que em pacientes com mais de 75 anos, a prevalência sobe para 10,3%. 

Talvez o achado mais importante desse estudo seja a taxa de evitabilidade. Segundo os pesquisadores, de todos os eventos adversos observados, 71,3% poderiam ter sido evitados, ou seja, praticamente 3 a cada 4. Isso significa que com ações educativas e de conscientização, o país poderia evitar cerca de 4 milhões de eventos adversos nos cuidados básicos todos os anos. 

Considerando que 53,3% dos eventos adversos estavam relacionados à medicação (sendo 28,7% deles erros de prescrição e 17% deles erros de administração), comprova-se a importância de alavancar campanhas de medicação segura conduzidas inclusive pela OMS e de fortalecer a educação continuada acerca dessa temática. 

Na classificação de gravidade, o estudo identificou que 60,3% dos eventos adversos eram leves; 31,9% moderados; e 7,4% graves.  

Importante explicar que a metodologia usada para classificação do nível de gravidade foi embasada em um modelo do Reino Unidos que considera um evento adverso leve quando requer observação extra ou tratamento menor; moderado quando resulta em dano significativo de curto prazo requerendo tratamento ou procedimento adicional como, por exemplo, uma internação hospitalar breve ou uma intervenção cirúrgica; e grave quando causa dano significativo prolongado, permanente ou quando leva a óbito. 

Entre os casos graves, destaque para traumas em decorrência de monitoramento inadequado de epilepsia, internações repetidas por cetoacidose diabética em pacientes sem tratamento, fratura com comprometimento permanente por queda após uso desnecessário de benzodiazepínicos, dores prolongadas, persistentes ou perda de autonomia funcional após cirurgias ortopédicas. 

Porém, alguns pontos precisam ser destacados. Apesar de ser uma amostra considerada bastante grande, é regional, ou seja, reflete um cenário específico da capital espanhola. Além disso, são dados de um período antes da covid-19, pode haver subnotificação e, como não havia um farmacêutico na equipe de avaliação dos prontuários e os principais eventos adversos estavam relacionados à medicação, pode haver uma limitação nesse aspecto. 

A análise final da publicação mostra que estudos anteriores estimaram frequência mais baixa de eventos adversos, com prevalência entre 1% e 3%, diferença que pode estar relacionada a muitos aspectos distintos. Em contrapartida, a taxa de evitabilidade desse estudo espanhol está similar à dos estudos anteriores. 

Referências

(1) Is primary care a patient-safe setting? Prevalence, severity, nature, and causes of adverse events: numerous and mostly avoidable 

Avalie esse conteúdo

Média da classificação 4.4 / 5. Número de votos: 7

Outros conteúdos do Acervo de Segurança do Paciente

Tudo
materiais-cientificos-icon-mini Materiais Científicos
noticias-icon Notícias
eventos-icon-2 Eventos